São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Documento final marca avanço feminista

JAIME SPITZCOVSKY; SUZANA SINGER
DE PEQUIM E DA ENVIADA ESPECIAL

A "plataforma de ação", ao sistematizar pela primeira vez uma gama tão variada de questões sobre a mulher, representa um avanço do movimento feminista.
Mas o texto final, construído em nome do consenso, impede que as chamadas "forças liberais" comemorem uma vitória completa sobre as "conservadoras". Entre os "liberais", destacam-se EUA, Canadá, África do Sul, União Européia, Finlândia e Brasil.
A lista dos "conservadores" reúne católicos (Vaticano, Argentina, Equador, Guatemala, Paraguai) e islâmicos (Irã, Sudão, Iêmen, Oma, Kuait).
Os contornos finais da plataforma evidenciam concessões dos dois lados. Ninguém queria que a conferência fracassasse, porque o país que saísse com o rótulo de intransigente carregaria pontos negativos para a sua imagem internacional.
As negociações mostraram que ainda é muito cedo para se falar de sexo fora do contexto de saúde. Mas, pelo menos ali, o "bloco liberal" avançou o quanto pôde, garantindo às mulheres o direito de decidir livremente questões relativas à sua sexualidade.
O que parecia ameno e razoável acabou extrapolando os limites dos países religiosos, que fizeram várias ressalvas a esse capítulo.
A disputa entre países ricos e pobres serve como exemplo para ilustrar uma negociação que deixou o texto no meio do caminho.
Os países em desenvolvimento queriam que os países industrializados se comprometessem a canalizar novos recursos para as mulheres no Terceiro Mundo.
A mágica de negociação encontrou como saída a inclusão da expressão "novos e adicionais recursos", mas sem explicitar a origem desse dinheiro. Ou seja, não se sacramentou o compromisso dos países ricos, já que esses "novos e adicionais recursos" poderiam vir, por exemplo, da poupança interna dos países pobres ou de investimentos estrangeiros.
A "declaração de Pequim" é ainda mais contida que a "plataforma". Como não cabem ressalvas à "declaração", os países "liberais" cederam ao máximo para garantir, pelo menos, a sua existência (até a madrugada de sexta-feira, temia-se que não saísse a "declaração").
O que se conclui de uma conferência como essa é que nada é básico ou óbvio. A cinco anos da virada do século, consumiram-se horas discutindo se "os direitos da mulher são direitos humanos". Pelo menos nesse caso, a frase vingou.
(JS e SS)

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