São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
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Sem-terra organizam novas invasões

ABNOR GONDIM
ENVIADO ESPECIAL A BURITIS (MG)

A onda de ocupações de terra no país visa a forçar o Ministério da Agricultura e da Reforma Agrária a assentar ainda neste ano 60 mil famílias -20 mil acima da meta de 40 mil fixada pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
A estratégia foi anunciada pelo coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Gilberto Portes. Segundo ele, mais 3.000 famílias serão recrutadas nas próximas semanas para novas ocupações em vários Estados.
Elas vão se somar às 17 mil que estão acampadas desde o início do atual governo (janeiro).
"Quando o governo falou em assentar 40 mil famílias, neste ano, disse que a meta poderia ser ultrapassada e não incluiu as 17 mil famílias que já estavam acampadas desde o ano passado", disse Portes.
Para o MST, não há outra maneira de fazer reforma agrária no país a não ser por meio de ocupações. Essa orientação serve tanto para o governo Fernando Henrique Cardoso quanto para o governo petista do Distrito Federal, para onde são previstas ocupações.
Portes diz que "nenhum governo tem um plano de reforma agrária para superar a gritante concentração de renda no Brasil, em que 1% dos proprietários detêm 46% das terras particulares do país".
Uma prova disso, segundo o MST, é a promessa de FHC de regularizar a situação dos 90 acampamentos espalhados pelo país.
Em julho, a promessa foi feita pelo presidente em audiência concedida aos dirigentes do MST. Até hoje, nada teria sido feito.
Novas invasões
A nova onda de invasões organizadas pelo MST foi deflagrada depois do 3º Encontro Nacional dos Sem-Terra, realizado em julho, em Brasília.
Outras ocupações foram promovidas sem o aval do MST, como a que ocorreu em Corumbiara (RO), que acabou resultando na morte de dez sem-terra e dois policiais militares. A invasão foi organizada por uma dissidência do movimento.
Os Estados mais atingidos pelas invasões foram Rondônia, Pernambuco, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Mas os líderes do movimento também escolheram áreas do país que nunca tiveram invasões rurais, como a região ao redor de Brasília.
Desde o dia 1º de setembro, os sem-terra estão acampados na fazenda Barriguda, em Buritis, a 220 km de Brasília. A fazenda fica a cerca de 30 km da Agropecuária Córrego da Ponte, nome da fazenda de FHC na região de Buritis.
Desta vez, o governo federal foi mais rápido para evitar um confronto armado e se comprometeu a definir uma nova área para os acampados.
"Podem considerar que é uma vitória do movimento a decisão do governo de Minas de que a PM só irá retirá-los para uma nova área", disse, na sexta-feira passada, o major Severo Silva Neto aos sem-terra da fazenda Barriguda.

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