São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
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Movimento é 'profissionalizado'

ABNOR GONDIM
DO ENVIADO ESPECIAL

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) conta com "profissionais" para organizar bóias-frias, meeiros e arrendatários e levantar o moral dos acampamentos de sem-terra espalhados por todo o país.
Quatro deles foram enviados para uma chácara em Rio Preto, na divisa de Goiás com o Distrito Federal.
O objetivo: organizar a invasão na fazenda Barriguda, iniciada no dia 1º de setembro.
Todos se dizem socialistas, opção política adotada pelo próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que tem uma grande simpatia pelo regime cubano.
O MST festeja o fato de o governo de Fidel Castro ter resistido depois do fim da URSS (União das Repúblicas Soviéticas) e da queda do Muro de Berlim.
Por duas vezes, o gaúcho Gerson Telocken, 36, que participou de uma das primeiras ocupações do MST na fazenda Annoni, no Rio Grande do Sul, viajou para Cuba e Rússia.
Telocken viajou para fazer cursos de técnicas agrícolas e para receber noções sobre o regime socialista de produção.
"Eu não gosto de falar nisso. Pensam que a gente aprendeu lá técnicas de guerrilha. E isso é mentira. Na Rússia, foi até muito chato. Passamos boa parte do tempo visitando museus", disse Telocken.
Outro enviado do MST à fazenda Barriguda foi o paranaense Lourival Lesse, 22.
Aos 11 anos de idade, ele começou a conviver com os sem-terra na primeira de uma série de ocupações.
"Onde tem uma ocupação precisando, o movimento envia a gente para lá. E nós vamos com a vontade de tornar este país socialista", conta.
Telocken e Lesse são solteiros -os que têm família dificilmente são recrutados para essas funções.
Antes de encontrá-los no acampamento, o tenente-coronel Geraldo Oliveira, encarregado de retirar pacificamente os sem-terra, disse que "eles são profissionais da invasão".
Para o coordenador nacional do MST, Gilberto Portes, a acusação não é verdadeira.
Segundo Portes, os militantes do movimento querem conduzir os sem-terra para um processo de produção relevante ao país.
"Não estamos pensando em desenvolver uma agricultura de subsistência, mas um sistema cooperativo que signifique produção em larga escala", afirma Telocken.

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