São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
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Goethe com cachaça

Brasil e Europa poderão, no século 21, estar unidos numa comunhão comercial de proporções inéditas. Segundo a retórica em curso, pode ser que em alguns anos já nos vislumbremos como parte do maior bloco econômico do planeta.
O projeto é brilhante, os horizontes são razoáveis, os discursos são competentes, mas a lógica dessa pretendida nova dinâmica inter-regional responde a fatores que os minuetos diplomáticos acabam camuflando. Há condicionantes geopolíticos maiores em jogo.
O maior, e mais decisivo, passa pela relação com o outro grande pólo das relações externas brasileiras, os Estados Unidos. Os EUA, como se sabe, desde os anos 80 investem na formação de um megabloco americano a partir do Nafta.
O desafio maior hoje está em abrir novas frentes de inserção na economia global sem, ao mesmo tempo, fragilizar conquistas já alcançadas ou mesmo diminuir a atratividade do projeto de integração pan-americana.
Investir numa aproximação com a UE, quando ao mesmo tempo transcorre um processo ainda errático de convergência com o Nafta, significa não apenas abrir novas oportunidades, mas também pode importar novos riscos.
A chamada "ordem global" é ainda uma grandíssima incógnita. Diversificar as conexões externas é uma política sábia e ambiciosa. Mas é importante ao mesmo tempo perceber que essa mesma sabedoria, nos momentos de desordem ou conflito de interesses, poderá ensejar também menos solidariedades.

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