São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 1995 |
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Che enfrentou magia tribal
JOSÉ GERALDO COUTO
Nessas memórias a muitas vozes, a voz que se destaca, obviamente, é a do próprio Che. Lidos 30 anos depois, os textos de seu manuscrito ganham uma densidade trágica e, por vezes, patética. A imagem quixotesca do guerrilheiro é reforçada por sua perplexidade diante da confusão africana, sua impotência ao tentar encaixar uma realidade que lhe escapava à compreensão nos esquemas lógicos do marxismo-leninismo. Há no livro momentos pitorescos, como por exemplo o feitiço a que os guerreiros africanos se submetiam antes dos combates, para "fechar o corpo", ou as escaramuças dos guerriheiros cubanos com os bichos da selva. Outras passagens interessantes são as que contam as dificuldades do Che (que era médico) para implantar condições mínimas de higiene e saúde entre seus homens. É comovente o esforço do comandante (que estava incógnito, careca e sem barba) em aprender a língua swahili, passando noites em claro no acampamento. Mais emocionante ainda é ler o relato de como o Che recebeu a notícia da morte de sua mãe e, em seguida, a última carta dela. Se a revolução comunista foi uma quimera, pelo menos produziu algumas das mais belas trajetórias humanas de nosso século. A de Che Guevara foi uma delas. Texto Anterior: Livro narra aventura africana de Guevara Próximo Texto: Mamas traz a alegria hippie dos anos 60 Índice |
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