São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 1995
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Fuller põe racismo no espelho

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Pode-se pensar em "Vendaval na Jamaica (Record, 21h30), à noite. Ou em matinês como "A Recruta Benjamin (no SBT) e "Bandoleiros do Arizona (Record).
Mas o planeta Samuel Fuller é outra história. "O Cachorro Branco (Globo, 0h10) é o último filme que dirigiu nos EUA. Não foi lançado nos cinemas no Brasil e, em vídeo, ganhou o nome mais digno de "O Cão Branco.
Kristy McNichol faz a jovem atriz que decide ficar com um belo cachorro que atropela. Logo descobrirá, pelas estranhas reações do animal, que se trata de um cão treinado para atacar pessoas negras.
Já pelo roteiro percebe-se que Fuller continua fiel ao princípio que o tornou um dos cineastas centrais da geração americana do pós-guerra. Para falar do racismo ele busca uma espécie de porta de serviço, um aspecto inesperado desse fenômeno.
Inesperado, porém lancinante. E ao acompanhar, cena por cena, o sofrido trabalho de descondicionamento do cachorro, percebemos a profundidade (e a irracionalidade) dos sentimentos envolvidos no racismo.
Fuller cerca seu tema no estilo físico que sempre usou: é nos olhos do cão, em suas atitudes paradoxais, em sua loucura, que o racismo se mostra, como um espelho.
"Cachorro Branco é um grande filme quase desconhecido. Sua existência bastaria para colocar em xeque as dezenas de filmes de boa vontade que surgem a toda hora no mercado e que, por sentimentalismo ou fraqueza, quase sempre terminam por manter intacto o problema que pretendem atacar.

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