São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 1995
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Listas e literatura

A palavra "lista", como não poderia deixar de ser, tem origem no germânico "*lista". Extremamente metódicos, os povos germânicos sempre foram dados à organização, seja em sua faceta mais elevada, como pôr ordem na filosofia, ou em sua mais crua bestialidade, como os campos de extermínio nazistas.
No Brasil, para o bem ou para o mal, a organização não é parte da cultura nacional. Como esta Folha mostrou na edição de ontem, os dois principais vestibulares paulistas (Fuvest e Unicamp) elaboraram listas dos livros que serão utilizados em seus testes de literatura tão díspares que, somados, são 22 obras que chegam a reunir 3.709 páginas.
De um lado, essa disparidade faz florescer a indústria dos resumos -verdadeiros rebotalhos da literatura. De outro, provoca a reação de alunos e professores (principalmente de cursinhos) para que se elabore uma lista única e permanente, que possibilitaria a diluição da leitura das obras capitais ao longo de todo o ciclo escolar.
A idéia é tão sedutora quanto enganosa. A própria diversidade das listas é a prova cabal de que a "literatura" não pode ser reduzida a uma meia dúzia de títulos capitais.
O curioso número de 3.709 páginas obtido pela Folha também é revelador da complexidade da matéria. Ler 3.709 páginas ao longo de um ano não é nem de longe tarefa impossível. Se essas 3.709 páginas forem distribuídas ao longo de todo o ciclo escolar, então pode-se estar certo de que é um número extremamente pequeno para assegurar um mínimo de sólida formação.

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