São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 1995 |
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FHC for export
CLÓVIS ROSSI BONN - Chega a ser curiosa a diferença entre o Fernando Henrique Cardoso de consumo interno e o que se apresenta às audiências internacionais.No Brasil, salvo o discurso de posse, de forte ênfase na questão social, a prioridade parece apontar sempre para o que se convencionou chamar de moderno: privatizações, abertura da economia, enxugamento do Estado etc. O social, claro, sempre comparece, mas secundariamente. Na Europa e, em especial, nas palestras para empresários, a sabedoria convencional diria que o lógico seria pôr ainda mais ênfase no "moderno" e varrer o social definitivamente para baixo do tapete. Não é o que FHC faz. Ontem, por exemplo, tinha diante de si uma platéia de 250 empresários, na sede do Deutsche Bank, e o tema privatização. É claro que o presidente falou de privatização, de abertura da economia etc. Mas também acrescentou: "A abertura da economia, por si só, não reduz as desigualdades". Ou: "Um país como o nosso não pode se contentar apenas com a estabilidade (da economia)". Muita gente, no Brasil, diz ou escreve coisas semelhantes. A maioria acaba, pura e simplesmente, rotulada de ser pré-antiga, quando o chique, hoje, é ser moderno ou até pós-moderno. Se essas pessoas não conseguem comover nem sequer os empresários brasileiros, que vêem (ou deveriam ver) a miséria crescendo em quantidades industriais às suas portas, imagine então os empresários europeus. Mais ainda: não houve um só dos muitos discursos do presidente, nestes seis dias de Europa, em que ele não tenha feito uma ligação clara e inseparável entre economia (estabilidade e crescimento) e democracia. Ontem, sempre no Deutsche Bank, FHC até admitiu: "Pode parecer bizarro que, em um seminário de privatização, eu lhes fale de democracia". Não sei, como é óbvio, se o pessoal achou ou não bizarro. Mas que é no mínimo curioso, lá isso é. Falta agora passar das palavras à prática, antes que o ministro Sérgio Motta solte de novo aquelas frases pouco protocolares. Texto Anterior: Listas e literatura Próximo Texto: Edir Macedo somos nós Índice |
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