São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 1995
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Edir Macedo somos nós

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Somos sócios de Edir Macedo. Com nossa omissão, eternizamos a pobreza. Com sua esperteza, o bispo a mercantiliza. Mantemos o hospício da miséria, para que a Igreja Universal lobotomize os pobres.
Não há perdedores na sociedade que nos une a Edir Macedo. Enquanto o maomé da Universal engorda seu patrimônio, aliviamos a nossa consciência. A expansão de seu império de fé livra-nos de um peso. O mal-estar que sentíamos diante da tragédia não faz mais sentido.
O pobre é o verdadeiro culpado pela própria miséria. Um idiota capaz de entregar a alma a aproveitadores como o bispo não merece a nossa consternação. A Igreja Universal trouxe-nos o conforto supremo.
Podemos continuar desdenhando da miséria. Com a vantagem de não precisarmos abandonar o espanto. A miséria não perdeu a sua utilidade. Edir Macedo é a matéria-prima que escasseava nos ensaios de nossa intelectualidade. É mais uma pauta para os meios de comunicação.
Também a Igreja Católica mantém sólida sociedade com Edir Macedo. Sua condenação aos métodos contraceptivos estimula o surgimento de neomiseráveis, legiões de fiéis-bebês. Sua oposição neurótica à camisinha insufla a fábrica de doentes.
Sob o queixo caído do papa, os miseráveis produzirão, com sua luxúria desmedida, com seu erotismo burro, mais e mais pobres. Novos famintos e doentes. Milhões de candidatos à folha de dízimos da Igreja Universal.
Em nossas festas, protegidas por grades e alarmes, deixaremos que a vergonha se dissolva como gelo no uísque. Falaremos da miséria de fronte alçada. Não somos mais responsáveis.
É mais cômodo acreditar que os pobres não merecem que soframos por eles. Fazem jus à própria decadência. Ao atraí-los, Edir Macedo redimiu-nos de nossas culpas. É o nosso salvador. É a anistia para nossa alienação.
Doravante, só precisaremos pensar na miséria no instante em que formos reforçar nosso esquema de segurança. Deixemos, de resto, que Edir Macedo se aproveite dela.

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