São Paulo, terça-feira, 19 de setembro de 1995
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Três tristes dúvidas

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO - 1. Por que será que o ministro José Eduardo de Andrade Vieira pode ser ministro e dono de banco ao mesmo tempo?
O José Milton Dallari não pôde ser o Dallari "xerife dos preços" e Dallari consultor de empresas ao mesmo tempo. Foi praticamente obrigado a se demitir.
O Henrique Hargreaves também não pôde ser o Hargreaves presidente do Correio e o Hargreaves lobista do Sebrae. Tentou tudo para convencer o governo de que não havia conflito de interesses. Mas também não teve jeito. Dançou.
Agora, o Andrade Vieira pode ser ambos, homem público e banqueiro, que não há problema algum?
Não vamos lembrar, para não complicar as coisas, que Vieira também é dono de uma rede de emissoras de TV. Fiquemos apenas com o ministro-banqueiro. Pode?
2. Por que será que, apesar de ter quase 2.000 anos de existência, a Igreja Católica consegue, por meio de seu representante máximo, o papa, reunir apenas quatro vezes mais adeptos, em eventos semelhantes, do que a "teenager" Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo?
Aconteceu no fim-de-semana na África do Sul. João Paulo 2º encerrou sua primeira visita ao país com uma missa a que compareceram cerca de 200 mil pessoas.
No mesmo dia, no mesmo país, a sessão coletiva de exorcismos e benzeduras dos pastores de Macedo conseguiu, de sua parte, atrair cerca de 50 mil pessoas.
O fenômeno do esvaziamento do culto católico tradicional versus aumento e popularização das seitas tipo a de Edir Macedo chega, portanto, até a África.
Onde, aparentemente, também se opta pela promessa das benesses de Deus "aqui e agora" em detrimento das delícias da vida eterna. Após a morte.
3. Por que será que o prefeito César Maia usa 41 PMs no esquema de sua segurança pessoal? Porque foi ameaçado de morte por um traficante? Errado: o esquema já existiria antes da ameaça de um tal de Ratazana.
Talvez seja porque Maia, doido por um factóide noticioso, tenha amor à pele demais para não querer virar notícia policial.

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