São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Capitalização vai ser exigida

GUSTAVO PATÚ

GUSTAVO PATÚ; DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo tendo aprovado a renegociação da dívida do Estado de São Paulo junto ao Banespa, o Banco Central ainda pretende exigir que o governador Mário Covas capitalize o banco.
Também não se admite, no BC, o arquivamento da idéia de privatizar o Banespa, rechaçada por Covas e pela bancada parlamentar paulista. A pressão pela venda do banco será retomada mais à frente, segundo os planos da equipe econômica.
Na avaliação da cúpula do BC, a solução política articulada anteontem para a crise do Banespa não resolve o principal problema do banco: falta dinheiro em caixa para que ele possa operar sem o socorro do BC.
Covas, portanto, teria que pôr em funcionamento o projeto de venda de imóveis -ou até de estatais paulistas- para conseguir dinheiro vivo e receber de volta o Banespa, sob administração do BC desde dezembro último.
Segundo o relato obtido pela Folha junto ao BC, a aprovação da idéia de incluir a dívida de R$ 13,5 bilhões de São Paulo junto ao Banespa -o principal motivo da crise do banco- em uma ampla renegociação de dívidas estaduais a ser aprovada no Senado foi a "solução possível".
O raciocínio é o seguinte: o BC estava sendo atacado por Covas e pela bancada paulista por não ter aceito a proposta do governador para sanear e recuperar o Banespa, enquanto o presidente Fernando Henrique Cardoso estava fora do país. Restava ao BC evitar que o atrito ganhasse dimensões de crise política.
O presidente do BC, Gustavo Loyola, decidiu atuar como "bombeiro" e mostrar boa vontade com Covas, mantendo aberta -ao menos formalmente- a negociação.
Resolveu-se politicamente uma parte do problema. A megadívida paulista, gerada em governos anteriores, será parcelada, tirando um peso das contas do Estado. Fica aberta uma concessão a Covas.
Entretanto, o BC avalia que o parcelamento em até 30 anos da dívida resulta em prestações baixas, insuficientes para recompor o caixa do Banespa. O banco ainda continua recorrendo a empréstimos do BC e de bancos federais para funcionar.
Por isso, está fora de cogitação suspender o regime de administração especial do BC no Banespa, que vencerá em dezembro e muito provavelmente será renovado por mais um ano.
Quanto à privatização, o objetivo da cúpula do BC é garantir a crise financeira do Banespa, gerada por uso político do banco segundo relatório da junta interventora, não venha a se repetir no futuro.
Os dirigentes do BC ressaltam que não acreditam em um uso "predatório" do banco por Covas -o temor é quanto a seus sucessores.
Não há, porém, nenhuma estratégia definida para arrancar de Covas o aval para a venda do Banespa. Acredita-se apenas que FHC poderá negociar a privatização ao avalizar o acordo para a renegociação das dívidas estaduais.
Tucanos
A maioria do PSDB decidiu se posicionar contra a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o Banco Central, apesar de o pedido de abertura da CPI ter sido feito pelo tucano José Abreu (SP). Ele vai insistir na idéia e apresentar um projeto de resolução para apressar a CPI.
Sem o apoio do próprio partido, Abreu deve contar com as bancadas da oposição para levar adiante sua proposta. Apenas 24 dos 79 deputados do PSDB assinaram o requerimento de abertura da comissão.

Texto Anterior: Governador ironiza o Banco Central
Próximo Texto: Reabertura do Econômico não está garantida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.