São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 1995
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'O Balconista' tira graça de dia infernal

ZECA CAMARGO
EDITOR DA ILUSTRADA

Filme: O Balconista
Direção: Kevin Smith
Com: Brian O'Halloran, Jeff Anderson
Produção: EUA, 1994
Onde: Cinearte 2

A essa altura, o aposto "filme de estréia de diretor independente americano" já é capaz de detonar longos bocejos naqueles que buscam algo para ver no cinema. "O Balconista", que estréia hoje, merece o aposto, mas não o bocejo.
Filmado em preto-e-branco, com roteiro feito de colagem de esquetes, sem nem um ator ou atriz conhecido do grande público, "O Balconista" não parece muito convidativo à primeira vista.
Aliás, o filme não é convidativo nem à segunda vista se você não for assisti-lo, no mínimo, com o mesmo espírito despretensioso que o diretor Kevin Smith o executou.
Claro que hoje, nessa estúpida celebração da "cultura alternativa" -da qual público, criadores e imprensa desfrutam-, a linha que divide a despretensão espontânea da calculada é muito fina. Mas "O Balconista", acredite, parece juntar elementos suficientes para estar no primeiro grupo.
O filme é sobre o dia de um balconista de um estabelecimento tipo "loja de conveniência". Atrás do balcão está Dante Hicks, interpretado na medida certa da displicência por Brian O'Halloran. Raramente saindo desse seu posto ele interage com estranhos clientes, que vão oferecendo as deixas para as situações complicadas.
Se esses clientes, a princípio, parecem um pouco forçados e improváveis, qualquer pessoa que já ficou cinco minutos esperando um troco em uma loja dessas pode pular em defesa do diretor de "O Balconista".
Difícil para Smith (que também assina o roteiro) deve ter sido escolher que tipos ele deveria tirar de seu roteiro -e não criá-los.
Tudo bem, pode ser que algum desses clientes sejam absurdos ou dificilmente eles passariam pela loja no mesmo dia. Mas se houve essa forçadinha de barra, que, afinal, espanta o clima realista do filme, Smith pode ser perdoado.
Sua galeria de "freaks" (ou "malucos", numa tradução capenga) é hilária. Começa com um cara que coloca um pulmão doente (um pulmão mesmo) e vai embora.
E tem seu "vizinho de estabelecimento comercial", o tal cara da locadora, Randal (Jeff Anderson), que supera os clientes de Dante.
A diferença entre Dante e Randal é que o segundo tenta ter mais responsabilidade -o que, claro, torna seu dia um inferno.
Dante é bombardeado por todo tipo de loucura e, sem nunca saber de que lado vem o tiro, ele faz o possível para conservar sua sanidade no meio desse caos -com sucesso relativo.
Você sabe o que é isso. Acontece nos melhores empregos -e em alguns bons filmes também.

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