São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 1995
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Documentário mostra a vida amazônica

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: No Rio das Amazonas
Produção: Brasil, 1995
Direção: Ricardo Dias
Elenco: Paulo Vanzolini
Onde: Espaço Banco Nacional de Cinema, sala 4

Uma ave rara pousa a partir de hoje no Espaço Banco Nacional de Cinema: um documentário brasileiro de longa-metragem. "No Rio das Amazonas" é o nome do bicho. Realizado pelo cineasta e biólogo Ricardo Dias, que tem em seu currículo 67 programas de TV da série "Globo Ciência", esse filme de 76 minutos documenta uma viagem de 23 dias pelo rio Amazonas.
Como guia e comentador da viagem está ninguém menos que o zoólogo e compositor popular Paulo Vanzolini. Os primeiros minutos de "No Rio das Amazonas" são ocupados por um falso cinejornal sobre a grandeza da Amazônia, num estilo entre o sensacionalismo estridente do "Aqui Agora" e o ufanismo de Amaral Neto.
É um sinal irônico de que o que virá a seguir será justamente o oposto. Em vez da estridência, um olhar demorado e contemplativo; em vez do ufanismo, uma aguda atenção aos problemas da região.
A viagem é documentada num ritmo distendido e lento, como o do próprio rio e da vida das populações ribeirinhas.
O público habituado à velocidade desinformativa da TV pode se sentir incomodado.
Mas pouco importa: um dos méritos do filme de Ricardo Dias é essa conquista de uma cadência fluvial, que se conjuga com a predominância do horizonte largo e do movimento (passe a redundância) horizontal.
Bichos invisíveis
A principal carência do filme está em outro ponto. Ao apresentar, na sua narração, o zoólogo Paulo Vanzolini como um dos maiores especialistas na fauna amazônica, o cineasta cria no público a expectativa de ver muitos bichos da floresta. Só que esses bichos não aparecem.
Durante o documentário, Vanzolini e alguns habitantes ribeirinhos falam em numerosos tipos de peixe, jacarés, cobras, macacos, veados, onças -e tudo o que o espectador vê são alguns papagaios e patos. O próprio Vanzolini explica que não é fácil ver os animais que moram na mata fechada, e isso é perfeitamente compreensível e aceitável.
Mas é provável que o espectador acostumado com aqueles documentários televisivos sobre vida animal (que geralmente gastam meses e rios de dinheiro para filmar as feras) se sinta frustrado do mesmo modo.
Sensível descrição
O que "No Rio das Amazonas" tem para compensar essa fraqueza é uma sensível descrição da vida às margens dos grandes rios amazônicos.
Com profundo conhecimento de causa, Paulo Vanzolini discorre sobre temas como as atividades econômicas, as moradias, as relações familiares dessa gente meio anfíbia que já nasce flutuando no rio.
Só isso já seria suficiente para justificar o filme: documentar "in loco" a atividade de um intelectual aberto igualmente à ciência e à vida, um dos últimos representantes de um time de estudiosos que, contra todo o colonialismo cultural, têm se empenhado em conhecer e amar este país.

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