São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 1995
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BC estuda medidas para dinheiro circular

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

O BC (Banco Central) adotará uma série de medidas para melhorar o fluxo do dinheiro no sistema financeiro.
Estão sendo aguardadas definições para o seguro de garantia de depósito, mudanças na atuação do BC no mercado aberto e redução ou fim da cobrança do PIS (Programa de Integração Social) nos negócios entre bancos.
A intervenção no Banco Econômico -um dos dez maiores do país- causou crise de credibilidade e concentração de recursos em poucas instituições. O BC passou a receber o dinheiro dos grandes bancos, vendendo títulos públicos e repassando os recursos para as instituições que precisavam equilibrar seu caixa.
A adoção do seguro de depósito dará maior garantia aos correntistas e ajudará a melhorar a captação dos bancos junto ao público. Há uma discussão ainda sobre o valor a ser segurado. A Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos) propõe que, se houver a "quebra" de um banco, o correntista tenha o direito de receber até R$ 12 mil. O BC quer aumentar o valor para R$ 20 mil.
A cobrança da alíquota de 0,75% do PIS nos negócios entre bancos desde o início do ano também paralisa o fluxo de dinheiro. Eram feitas 10 mil operações entre bancos por dia no ano passado. Hoje não chegam a mil, diz Maurício Schulman, presidente da Febraban.
O BC mudou, na semana passada, sua forma de atuação no mercado aberto ("open market") de forma a forçar que os grandes bancos emprestem para as pequenas instituições.
Há anos o BC vinha, logo de manhã, fixando o juro do dia e oferecendo títulos para os bancos com sobra de dinheiro. Desde quarta-feira passada, o BC deixa o mercado livre pela manhã, forçando os bancos a negociarem.
O presidente do BC, Gustavo Loyola, reconhece a necessidade de os bancos realizarem ajustes em função da perda dos ganhos inflacionários, mas afirma, porém, que isso será feito pelo setor e com ajuda do Banco Central "de forma ordenada e sem traumas".
Ricardo Fleury Lacerda, especialista em sistema financeiro da Universidade de Columbia (Nova York), diz que o recente problema causado pela intervenção no Banco Econômico, que abalou o mercado bancário brasileiro, não foi um fenômeno isolado.
Há crises financeiras em todas as regiões do mundo, diz. Com a globalização dos mercados, os bancos precisam ter cada vez mais a capacidade de oferecer serviços de qualidade e baixos custos para seus clientes. "Muitos bancos não conseguem se adaptar à nova realidade e têm que fechar suas portas ou acabam sendo fechados pelos bancos centrais", diz.
Nas últimas semanas, o governo japonês fechou cinco bancos. Toshiro Kobayashi, diretor do Kumon Institute of Education e especialista do mercado financeiro japonês, diz que os bancos tiveram problemas com crédito imobiliário, com a valorização da moeda japonesa (iene) e com a recessão.
Kobayashi estima em US$ 60 bilhões o valor da inadimplência (atraso nos pagamentos) em empréstimos imobiliários. O valor supera as reservas internacionais do Brasil (o caixa em moeda forte), estimadas em US$ 45 bilhões.
Os Estados Unidos e Europa acabam de emergir de fortes crises em seus sistemas financeiros. Entre 1987 e 1991 mais de mil bancos fecharam suas portas nos EUA. O governo norte-americano autorizou que os 11 mil bancos existentes passassem de uma atuação local para regional. O processo culminou com a recente fusão do Chemical com o Chase.
David Beim, professor de finanças internacionais da Universidade de Columbia (Nova York), diz que o México está criando uma cultura do "não pago". A política de juros reais (acima da inflação) altos afeta os bancos, pois reduz o pagamento de seus créditos. O Brasil e a Argentina passam por situações semelhantes, diz Beim.

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