São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 1995
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Multiplicando dívidas

As brutais despesas financeiras impostas ao Tesouro pelo Banco Central agravam a necessidade de cortar gastos nos ministérios e despontam como principal causa de um possível déficit público este ano. E as elevadíssimas taxas de juros, verdadeiramente estratosféricas para padrões internacionais, não corroem apenas as contas federais. Elas estão deteriorando dramaticamente a situação financeira de Estados e municípios endividados.
Mesmo que em alguns casos, como o da cidade de São Paulo, a dívida tenha recebido impulso adicional pelo excesso de gastos da prefeitura, o fato é que, pelas taxas atuais, as dívidas crescem cerca de 48% ao ano só por conta dos juros.
O governo ainda mantém a remuneração dos títulos federais em 3,3% ao mês, contra uma inflação que em setembro será próxima de 0,5% segundo a Fipe e pode ser negativa no cálculo do IGP-M da Fundação Getúlio Vargas. Além do conhecido efeito perverso sobre os Orçamentos e as dívidas públicas, essas taxas promovem uma violenta transferência de renda de toda a sociedade para os grandes detentores de riqueza financeira.
Seja pelo crescimento da dívida pública, ou pelo desembolso com base na receita de impostos, será sempre a população a pagar o custo descomunal dos juros excepcionalmente altos que o BC sustenta desde a implantação do Plano Real. Ainda que o temor de um novo superaquecimento da economia possa servir de argumento -já não muito forte- para a manutenção desse patamar estratosférico de juros, tal defesa vê-se necessariamente enfraquecida pelos vários indicadores de diminuição no ritmo de crescimento e queda da inflação.
Por prudência ou obstinação, o fato é que, hoje, o BC ajuda a deteriorar as contas públicas.

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