São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995
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FHC teme radicalização de movimento

SILVANA DE FREITAS; SHIRLEY EMERICK
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso teme a radicalização do movimento dos sem-terra e tentará negociar uma solução para o conflito no campo com o PT e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
FHC se reuniu ontem com o presidente da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura), Francisco Urbano.
Segundo Urbano, FHC pediu sugestões para atenuar a violência no campo. O presidente da Contag -filiada à CUT- defendeu a demissão do presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Brazílio Araújo Neto, e dos superintendentes do órgão.
O porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral, disse apenas que o governo estuda um "melhor gerenciamento" do órgão.
Reforma agrária também foi tema de uma audiência de FHC com o ministro da Agricultura, José Eduardo de Andrade Vieira, e do programa de rádio "Palavra do Presidente".
"As invasões de terra e a violência da polícia só estão agravando o problema", disse FHC no programa de rádio. Ele pediu que as pessoas "abram mão das divergências políticas" para colaborar com o governo.
O presidente disse que falaria sobre esse tema no programa de rádio porque "nas últimas semanas, aconteceram algumas invasões de propriedades" e defendeu "punição exemplar" para os responsáveis pelo massacre de sem-terra em Corumbiara (RO).
Após o encontro com FHC, Andrade Vieira disse que servidores do Incra estão "sabotando" a reforma agrária.
Segundo o ministro, alguns funcionários estão destruindo documentos para atrasar o processo de assentamento definido pelo governo. No início deste mês, seis disquetes de computador do Incra foram inutilizados.
Os disquetes, disse Andrade Vieira, continham o cadastro das 16 mil famílias acampadas que o presidente se comprometera assentar até o final do ano.
"A alguns poucos funcionários interessa o conflito. Dentro do Incra tem sabotagem para não fazermos a reforma agrária", disse.
Foi aberto um inquérito administrativo e outro pela Polícia Federal para apurar a responsabilidade da destruição dos documentos.
o ministro afirmou que já foram assentadas 17.768 famílias e até o final do ano estarão assentadas 51.364.
Também no Palácio do Planalto, seu colega da Justiça, Nelson Jobim, condenou a perspectiva de radicalização do movimento criada pelas ocupações de terra.
Segundo o ministro, "não estamos num Estado totalitário. Não há necessidade nenhuma de recorrer à violência".
No começo da noite de ontem, representantes de entidades ligadas ao tema, como MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a Comissão Pastoral da Terra, pediram explicações ao secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge, sobre informações divulgadas na semana passada de investigações do governo sobre a possível infiltração de guerrilheiros do grupo peruano Sendero Luminoso entre os sem-terra. Eduardo Jorge negou a existência de um relatório do governo atual.

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