São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 1995
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México recupera cinco murais de Rivera

FLAVIO CASTELLOTTI
DA CIDADE DO MÉXICO

O pintor mexicano Diego Rivera (1886-1957) não sai mesmo de moda. Enquanto seus quadros são vendidos por mais de US$ 3 milhões nos leilões de Nova York, seus murais mais famosos passam por um amplo e complexo trabalho de restauração.
Esta semana, foi reaberto à visitação pública o Cárcamo do Rio Lerma, edifício no Bosque de Chapultepec (Cidade do México), que contém cinco murais e uma fonte-mosaico de Rivera. Rivera é um dos principais muralistas mexicanos.
O trabalho de restauração durou dois anos e meio e foi o mais minucioso até agora. Durante 40 anos, metade dos 272 metros quadrados dos painéis do edifício esteve submersa em água. Os índices de oxidação e umidade das obras não tinham precedentes.
Rio
Em 1990, a prefeitura decidiu desviar o curso do rio e desativar o reservatório do Cárcamo, dando início aos trabalhos de restauração. Hoje, o antigo reservatório funciona como museu.
"Tivemos que remover a oxidação e o antigo verniz, centímetro por centímetro, com bisturi", explica Tereza Hernandéz, chefe da equipe de restauradores do INBA (Instituto Nacional de Belas Artes).
Com recursos do governo mexicano, o INBA implementou em 1990 o projeto de restauração, conservação e limpeza dos murais de Rivera.
Até hoje, mais de 1.300 metros quadrados de murais do artista foram restaurados e outros 4.000 metros quadrados passaram por trabalhos de limpeza e manutenção.
O maior trabalho de restauração está sendo realizado no Ministério de Educação Pública (centro da Cidade do México), onde Rivera, ajudado por uma equipe de 20 artistas, pintou 1.750 metros quadrados de murais, entre 1923 e 1928.
Uma equipe de 25 técnicos do INBA trabalha constantemente no edifício, que contém a maior obra em mural do artista. Até agora, 60% da obra já foi restaurada. O fim das atividades está previsto para junho de 96.
"O projeto do Ministério de Educação é o mais fascinante devido à demanda de trabalho e porque envolve várias disciplinas", disse à Folha o diretor de restaurações do INBA, Alejandro Morfin.
Morfin se refere à obra de engenharia, que está sendo levada a cabo juntamente com os trabalhos de restauração, com o objetivo de tornar a estrutura do edifício menos sensível aos abalos sísmicos.
O INBA desempenha também, no local, trabalhos de escavação arqueológica. O Ministério da Educação atrai 300 mil visitantes por ano, interessados na obra de Rivera.
Terremotos
Além de umidade, oxidação e ação da luz solar, a grande maioria dos murais de Rivera está exposta a outro tormento: os tremores de terra que abalam constantemente a Cidade do México.
"Umidade e descoloração são facilmente contornáveis, o problema é quando se afeta a estrutura de uma obra, Os terremotos fazem isso", explica Arturo Ventura, chefe dos restauradores que trabalham no Ministério de Educação.
Em 1985, quando ocorreu o pior terremoto da história moderna do México, desmoronou o Hotel do Prado, que continha em seu restaurante o último (e considerado por muitos como o mais representativo) mural pintado por Rivera, "Sonho de uma Tarde Dominical na Alameda Central".
A obra conta a história do país desde a época da conquista espanhola até os anos 50. A parede que a abrigava estava no térreo e manteve-se inteira, apesar de muitas rachaduras e danos.
O INBA experimentou então uma técnica que hoje utiliza com frequência: amarrou toda a parede com uma estrutura de ferro e transladou o mural.
Hoje, ele se encontra no Museu Mural Diego Rivera, fundado especialmente para abrigar a obra e informar o visitante sobre a fase muralista do pintor. Foi também o primeiro trabalho de restauração da atual equipe do INBA.
"O translado não foi nada fácil. O mural tem 15 metros de comprimento por cinco de largura. A estrutura transportada pesa 35 toneladas", relata o diretor do museu, Américo Sánchez.
O episódio serviu como lição. Hoje, é procedimento comum remover os murais afetados por terremotos (por meio da mesma técnica), restaurá-los e devolvê-los a seu lugar original, porém envoltos em uma placa de aço que os isola de eventuais danos causados por movimentos sísmicos.
"É caro e trabalhoso, mas é a única solução", comenta Ventura.

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