São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 1995
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Clint Eastwood consegue milagre com livro fraco

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Filme: As Pontes de Madison
Produção: EUA, 1995
Direção: Clint Eastwood
Com: Clint Eastwood e Meryl Streep
Estréia: hoje nos cines Liberty, Iguatemi 2, Olido 2 e circuito

Clint Eastwood virou milagreiro. Conseguir transformar o sacaroso romance de Robert James Waller num filme de boa qualidade é tarefa de santo.
"As Pontes de Madison", baseado no romance de mesmo título que permaneceu 163 semanas na lista dos mais vendidos do "The New York Times", é uma surpresa agradável, dada a pobreza da matéria-prima.
Clint Eastwood teve o bom senso de manter no filme apenas os elementos vitais que deram ao livro sua impressionante popularidade: a história de amor de quatro dias entre um fotógrafo "cidadão do mundo" e uma mulher comum de uma cidadezinha do interior do madorrento Estado de Iowa (região central dos EUA).
Os dois personagens estão perto dos seus 50 anos e este é um dos pontos de atração da história: ela toca na sensibilidade da geração do "baby-boom", que está chegando, perplexa, a seu primeiro meio século.
Enquanto Waller se derrama em diálogos melosos e metáforas vulgares ("Eu sou a estrada, o peregrino, as velas que sempre vão para o mar"), Eastwood é introspectivo, contido, econômico.
Uma das condições de Eastwood para filmar "As Pontes de Madison" foi que Waller não tivesse qualquer participação.
O roteiro foi escrito pelo talentoso Richard LaGravenese, que diz ter-se baseado mais em sua cunhada dona-de-casa do que em Waller para escrever as falas de Merryl Streep.
Streep, 46, é um dos pontos altos do filme. Ela vive Francesca, emigrante italiana há 20 anos em Iowa. Cheia de prêmios (dois Oscars e sete indicações para Oscar), Streep consegue um dos melhores desempenhos de sua carreira como uma gorducha sem graça, enterrada numa vida medíocre.
Trilha sonora
Clint Eastwood, 65, vai melhor como diretor do que como ator. Aliás, desde seu primeiro filme, "Perversa Paixão" (1971), ele tem sempre sido um cineasta sensível, que melhora a cada novo trabalho.
A trilha sonora, escolhida pessoalmente por Eastwood, um apaixonado conhecedor de jazz, é a melhor do ano, com grandes criações clássicas de Dinah Washington e Johnny Hartman.
Simples, sem problemas, filmado em 42 dias (18 a menos que o previsto) a custo de US$ 22 milhões (US$ 12 milhões a menos do que a atual produção média em Hollywood), "As Pontes de Madison" já faturou US$ 75 milhões.
É sucesso certo para casais enamorados ou corações sonhadores de qualquer idade.

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