São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 1995
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Academicismo galês mata as diferenças

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Hedd Wyn- O Poeta do Armagedon
Direção: Paul Turner
Elenco: Huw Garmon, Sue Roderick, Judith Haumphreys e Nia Dryhurst
Produção: País de Gales, 1994
Estréia: hoje no cine Belas Artes

"Hedd Wyn- O Poeta do Armagedon" tem um interesse quase antropológico. Uma rara produção do País de Gales que chega aos nossos cinemas. Talvez por ter conseguido uma proeza anterior: ter sido indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1994.
Mas o que difere o cinema galês de seus companheiros britânicos mais conhecidos, os ingleses e irlandeses?
Excetuando a língua (no País de Gales, se fala galês, língua de origem celta, e não inglês), os três parecem manter, com as exceções de Neal Jordan na Irlanda e dois ou três nomes na Inglaterra, um certo academicismo pernicioso que proíbe, a priori, qualquer forma de ousadia.
Poeta
"Hedd Wyn" é a história de um jovem poeta que é obrigado a abandonar as glórias da poesia para lutar na Primeira Guerra.
Narrado em flash-back, o filme é montado segundo a vida pregressa de Hedd. Os momentos em que descobre o amor e a poesia, se espantando que tudo seja mais do que um veículo para seu divertimento, mas também uma arte.
Seu conflito é então a descoberta e a destruição, o verso e a guerra. Enfim, o da grande poesia que não tem mais tempo no mundo, tema caro à cultura européia, especialmente a inglesa e francesa, que entre os anos de 1914 e 1917 viu desaparecer uma geração de poetas, romancistas e pintores.
Caricatura
Ainda que bem intencionado, em "Hedd Wyn" o diretor estreante Paul Turner trata seus personagens como caricaturas.
O poeta de seu filme é exatamente o que o senso comum acredita que seja um, amado por todos e com a extrema vocação a "saber viver", o que acaba transformando seu filme em uma espécie de "Carruagens de Fogo". Só que em lugar das corridas, a poesia.
E há ainda uma outra falência. Não se reconhece uma diferença cultural, galesa, nesse filme.
Sua rigidez faz pensar que essa mesma história poderia ser contada pelo cineasta americano James Ivory ("Vestígios do Dia", "Uma Janela Para o Amor"), um apaixonado pela cultura britânica. E que o resultado seria o mesmo.

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