São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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PF liga pasta rosa a conta 'fantasma'

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

A Procuradoria da República e a Polícia Federal têm em seu poder dados que revelam uma conexão entre uma conta "fantasma" movimentada pela TV Bahia, pertencente à família do senador Antônio Carlos Magalhães, e a pasta cor-de-rosa do Banco Econômico.
A ponte entre os dois casos, segundo procuradores e delegados da PF, é o economista Renato Ângelo Pereira Tourinho, ligado ao grupo político do senador do PFL.
Tourinho é responsável pela abertura da conta "fantasma" e é diretor de uma das principais firmas envolvidas no caso da pasta do Banco Econômico, a Pejota Propaganda Ltda., de Salvador.
Encontrada na sede da instituição financeira em Salvador, a pasta contém documentos que relacionam supostas contribuições a políticos nas eleições de 1990.
Entre os beneficiados relacionados nos documentos estão ACM e seu filho Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), presidente da Câmara dos Deputados.
Ex-gerente do Citibank, Tourinho confessou à Procuradoria ter aberto a conta em nome de Hugo Tavares Freire Filho.
Exames grafotécnicos feitos pela PF informam que Tourinho é responsável inclusive pelas assinaturas do correntista fictício.
Esta conta, segundo denúncia feita pela procuradora da República Mariane Mello, de Salvador, movimentou recursos utilizados para a campanha de ACM ao governo da Bahia, em 1990.
O caso está sob avaliação da 5ª Vara da Justiça Federal na Bahia e deverá ser julgado nos primeiros meses do ano.
Tourinho responde por crime de falsidade ideológica, o mesmo que levou o STF (Supremo Tribunal Federal) a condenar PC Farias, criador de vários "fantasmas", a sete anos de prisão.
Bem relacionado com o "carlismo", como é conhecida a corrente política de ACM na Bahia, o economista assumiu, em depoimentos, a responsabilidade pela abertura da conta, mas negou que a movimentação financeira feita pela TV Bahia, tivesse qualquer vínculo com a campanha eleitoral.
A Pejota, empresa dirigida por Tourinho, faz parte da lista da pasta do Econômico no papel de fornecedora de notas fiscais no valor de US$ 19.963,53.
Essas notas, reunidas pelo dono do banco, Ângelo Calmon de Sá, como despesas eleitorais, foram emitidas em 18 de setembro de 90, a 15 dias do primeiro turno das eleições daquele ano.
Candidatos
A PF investiga a Pejota e outras 42 empresas que possuem notas fiscais na pasta rosa.
A maioria das empresas é suspeita de ter fornecido documentos "frios" para justificar gastos do banco com os candidatos.
Uma nota é "fria" ou irregular quando ela é utilizada para comprovar uma despesa que de fato não foi feita. Isso é considerado crime fiscal.
Um exemplo: o Banco Econômico precisava gastar US$ 100 mil com um candidato -o que era proibido em 90- e para "legalizar" a saída desse dinheiro conseguia de uma firma qualquer notas fiscais no mesmo valor -comprovantes de que a empresa havia prestado algum serviço ao banco.
A PF deve fazer, a pedido da Procuradoria da República, uma comparação entre a movimentação financeira da conta "fantasma" e as empresas que possuem notas na pasta rosa.
O senador ACM é apontado, segundo as anotações do banqueiro Calmon de Sá nos documentos da pasta, como o principal beneficiado pelo esquema eleitoral do Banco Econômico na sua campanha vitoriosa ao governo baiano.

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