São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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Cinco ações movimentam negócios na Bolsa

RODNEY VERGILI
DA REDAÇÃO

Os negócios na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) concentraram-se em 1995 em apenas cinco papéis de estatais.
É um dos mais altos níveis de concentração da história do mercado acionário brasileiro.
As ações da Telebrás PN, Eletrobrás PNB, Petrobrás PN, Eletrobrás ON e Vale do Rio Doce PN foram responsáveis por 71,80% dos negócios à vista (até 14 de dezembro), segundo levantamento da corretora Fair.
A concentração nas cinco ações mais negociadas só foi equivalente à atual no triênio 1991/93, ou seja, no auge da recessão da era Collor.
No período 1975/79, a média de concentração nas cinco ações mais negociadas foi de 42,2%, evoluindo para 69,6% no período 1990/94.
Alberto Alves Sobrinho, diretor da corretora Fair, diz que a concentração do mercado em papéis de estatais é explicada pela possibilidade das operações especulativas no mesmo pregão ("day trade"), no mercado de opções e de futuros.
As empresas privadas não preenchem, em geral, os requisitos necessários para os mercados mais especulativos.
Os empresários privados não permitem que parcelas significativas ou dominantes do capital da empresa estejam em poder do mercado.
Há também uma relutância das empresas privadas à abertura de capital, o que pode ser explicada pelo baixo preço das ações em relação ao valor patrimonial.
Sergio Porto de Almeida, professor de mercado de capitais da Universidade Mackenzie, diz que a concentração dos negócios em ações de estatais está ligada também ao fato de que há forte expectativa de que o governo intensifique o programa de privatizações.
Peso da experiência
O mercado acionário é também concentrado nas mãos de investidores institucionais (bancos, seguradoras, fundos de pensão).
Dados do Banco Itaú indicam que a presença de pessoas físicas no mercado não passa de 3% do volume total de negócios.
Há uma ausência de investidores pessoas físicas por causa de experiência insatisfatórias e prejuízos decorrentes de quedas expressivas nas Bolsas, como em 1971.
A Bolsa pretende, neste ano, com um campanha publicitária, atrair o investidor.
Mas as altas taxas de juros também desestimulam aplicações no mercado acionário, afirma Roberto Faldini, presidente da Abrasca (Associação Brasileiras das Companhias Abertas).
O presidente da Bolsa de Valores de São Paulo, Alvaro Augusto Vidigal, diz que o governo continuará refém das taxas de juros altas em 1996, se não conseguir realizar as reformas e acelerar o programa de privatizações.
Exportação
A situação de concentração do mercado em poucos papéis é mais grave agora por diversos fatores.
O mercado da Telebrás -a principal ação negociada- já foi parcialmente transferido para Nova York por meio das operações com ADRs (American Depositary Receipts).
As ADRs são recibos de depósitos emitidos por bancos nos Estados Unidos com lastro (garantia) em ações da empresa estatal.
No dia 7 de dezembro, as ações da Telebrás PN (preferencial nominativa) concentravam nada menos que 56,8% dos negócios no mercado à vista. As ações preferenciais não dão direito a voto nas assembléias da empresa.
Análise da corretora Fair mostra que nos últimos 25 anos a concentração de negócios em uma única ação como Telebrás PN só alcançou percentuais semelhantes aos atuais - da ordem de 50%- em 1988, 1992 e 1993.
Fusões
O presidente da Ancor (Associação Nacional das Corretoras de Valores, Câmbio e Mercadorias), Homero Amaral Junior, diz que a autorização para que as empresas negociem seus títulos em Nova York produziu uma exportação do mercado acionário brasileiro para os Estados Unidos.
Os papéis da Telebrás estão sendo negociadas em montantes semelhantes na Bolsa de Nova York e na Bovespa.
A concentração dos negócios além de mostrar um mercado frágil mostra que o mercado acionário não tem servido ao propósito de capitalização das empresas privadas, diz o presidente da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), Manoel Pires da Costa.
As corretoras estão sendo atingidas pelo menor número de negócios e queda de receitas. Com o auxílio da Bovespa, algumas instituições já estão procurando novos parceiros e estudando fusões.

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