São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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'Modelo Lopez' vira tema de projeto em universidade

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova fábrica de caminhões e ônibus que a Volkswagen vai construir em Resende (RJ) se transformou em tema de pesquisa na universidade.
Um grupo de professores da Universidade de São Paulo e da Fundação Getúlio Vargas, sob a coordenação do Departamento de Engenharia de Produção da Politécnica, pretende acompanhar o processo de implantação da fábrica, que tem início de produção previsto para novembro.
A grande novidade de Resende, que atrai pesquisadores e preocupa os concorrentes da montadora, é o um novo sistema de produção, batizado de consórcio modular.
O vice-presidente mundial da montadora, José Ignacio López de Arriortúa, diz que o consórcio modular, idealizado por ele -e que ainda não foi testado em outros países-, marca o "início da terceira revolução industrial".
"Queremos compreender a lógica dessa nova forma de organização da produção e ver como vai funcionar na prática", diz Mario Sérgio Salerno, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Politécnica da USP e coordenador executivo do projeto.
Na teoria, o consórcio modular da Volks é uma idéia simples.
Os principais fornecedores -entre cinco e sete- vão se instalar em módulos (minifábricas) dentro da fábrica da Volkswagen.
Com suas próprias máquinas e funcionários, vão fazer a montagem dos subconjuntos de peças empregados nos caminhões e ônibus, como chassi, motor, eixo e suspensão.
A maior novidade é que esses fornecedores serão também responsáveis pela montagem final do caminhão. "Não haverá funcionários da Volkswagen na linha de montagem", conta López.
A Volks entra com o projeto, a coordenação e o controle de qualidade. Terá apenas 300 empregados diretos.
Riscos
O consórcio modular, segundo avaliação do grupo de pesquisadores, pode revolucionar o sistema de produção da indústria automobilística.
Se der certo, vai representar uma drástica redução de custos e os concorrentes serão obrigados a correr atrás da Volks. A montadora está investindo US$ 250 milhões em Resende.
."Por enquanto, o consórcio modular é apenas um projeto, uma declaração de intenções. Mas, em termos de organização de produção e de engenharia de produção, é a maior novidade do momento", diz Mauro Zilbovicius, do Departamento de Engenharia de Produção da Poli.
Mas o sucesso do empreendimento não está garantido, afirma Zilbovicius. Os professores avaliam que a Volkswagen enfrentará grandes obstáculos para implantar o consórcio modular na nova fábrica. E isso por duas razões principais:
1) o acirramento das tensões e conflitos entre a montadora e seus fornecedores principais, aqueles que vão se instalar dentro da fábrica. Pelo novo sistema, esses fornecedores se transformam em uma espécie de "sócios" minoritários. Eles não apenas fornecem peças, mas dividem os riscos do investimento e vão ter maior participação nas decisões;
2) as dificuldades de coordenação das várias etapas de produção e montagem. A Volks não terá mais o controle absoluto sobre a sua linha de montagem.
Pelo novo sistema, os fornecedores assumem riscos: vão ter de investir dentro da fábrica da Volks para montar produtos que somente serão utilizados pela montadora.
Mas os escolhidos, ainda não anunciados, também terão grandes vantagens: contrato de longo prazo e possibilidade de acesso ao mercado internacional.
Glauco Arbix, professor da Fundação Getúlio Vargas e um dos integrantes do projeto, afirma que o "modelo López" é a terceirização levada ao extremo. " fabricante deixa de fabricar", diz.
Segundo ele, o sistema faz parte de um processo de reestruturação da indústria -das montadoras e seus fornecedores-, que deve tornar as empresas instaladas no país mais competitivas em nível mundial.

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