São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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Os troféus de 1995

LUIÍS NASSIF

Para não escapar da onda de troféus que marca os balanços do ano, a coluna resolveu instituir os seus:
Troféu Batalha de Itararé - Descobre-se uma pasta que comprova que o banco Econômico contribuiu para campanhas eleitorais de políticos, sendo a maior parte destinada a políticos baianos. Notícia seria se não tivesse contribuído. Mesmo assim, o assunto ganha foro de grande denúncia, paralisa o país por meses e ganha o troféu Batalha de Itararé.
Troféu leão sem dentes - Decantado como o político mais habilidoso do país, o senador baiano Antônio Carlos Magalhães não resistiu à superexposição na mídia, quando trocou a Bahia por Brasília. Suas sucessivas ameaças de divulgação de dossiês caíram no vazio, comprovando que não há pimenta e dendê que resistam aos eflúvios do lago Paranoá.
Troféu Candinha - Para o presidente da República e para os ACMs, pai e filho, pela inacreditável irrelevância do episódio da troca de farpas que protagonizaram pela imprensa. E também às equipes da Fazenda, Banco Central e Planejamento, pelo estilo inimigos íntimos com que se expuseram à opinião pública.
Troféu prestamista - Ao economista Cláudio Considera, do Ipea, que conseguiu transformar a análise de tendências em tendência das análises. Ficou tanto tempo sustentando que a economia iria crescer em bases asiáticas que, quando se deu conta, estava a quilômetros de distância da realidade.
Tomou-se então de pudor em baixar bruscamente ao nível da terra e instituiu a revisão de cenários em prestações mensais. Agora, em vez de errar de uma só vez, o Ipea erra mensalmente.
Troféu velhinha de Taubaté - Aos bravos colegas que transformaram a economia em matéria de fé e, até que o último indicador permitisse, sustentavam que não havia razões para se temer a crise.
Troféu Pilatos - Ao ex-presidente do Banco Central, ministro Pedro Malan, e todos os seus sucessores, que sabiam mas nada fizeram para impedir a quebra do Econômico e do Nacional, porque política não é seu departamento.
Troféu reengenheiro do ano - Ao chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, que prometeu instituir no governo a administração por processo e entregou a administração em recesso.
Troféu amigo é pra essas coisas - Ao secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, que, mesmo não acreditando, foi o homem do governo que mais deu a cara para bater, em defesa da política de juros.
Troféu Lavoisier - Ao ex-presidente do Banco Central, Pérsio Arida, por sua afirmação de que não há mal em errar por excesso nos juros.
Troféu estatístico do ano - Ao jornalista Márcio Moreira Alves, por ter citado o índice de consumo de galinhas nas praias de Recife como prova de que os juros não afetavam a economia. Vai terminar contratado pelo Ipea.
Troféu varão de Plutarco - Ao senador Gilberto Miranda, por seu notável desprendimento e senso patriótico no episódio Sivam.

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