São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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A saga de Ana

CIDA SANTOS

O novo ano começa meio assim para o vôlei feminino brasileiro. A pergunta nestes primeiros dias de 96 é uma só: será que Ana Moser vai poder disputar a Olimpíada de Atlanta? Por enquanto, o tempo é de espera: só depois de o joelho direito desinchar será possível um prognóstico definitivo. O fantasma é um possível rompimento do ligamento cruzado anterior e uma cirurgia pela frente.
Ana Moser, que passou quatro meses de 95 em luta para se recuperar de uma cirurgia no joelho esquerdo, volta a enfrentar o mesmo drama, só que do outro lado. O problema agora é o direito.
Foi há dez dias: no terceiro set do jogo contra o Trasmontano pela Superliga, ela foi atacar uma bola no fundo da quadra e caiu de mau jeito. Saiu da quadra carregada e já pressentindo nova agonia.
As sensações e situações parecem mais uma vez se repetirem. Ana diz que está se sentindo meio impotente, sem muito o que fazer: apenas ouve o parecer dos médicos e espera o resultado final.
A maior angústia da jogadora é a possibilidade de ficar fora da Olimpíada, em um ano em que pela primeira vez o vôlei feminino brasileiro tem chances reais de lutar por uma medalha de ouro.
Catarinense, Ana recorre a uma imagem mineira para ilustrar a situação: "O trem passa só uma vez, pode até passar uma segunda, mas a grande chance é agora".
Pouco antes da Olimpíada de 92, Ana Moser se atormentava com outra situação: discordava da orientação do trabalho do então técnico Wadson Lima e lamentava que uma geração tão talentosa de jogadoras acabasse não desenvolvendo todo seu potencial e não chegando aonde poderia.
No mundo normalmente calado e obediente do vôlei brasileiro, Ana Moser disse não em 93 e deixou a seleção. A atitude da principal atacante do país acabou depois de um tempo obrigando os dirigentes da Confederação Brasileira de Vôlei a reverem o trabalho da comissão técnica. A partir daí, no início de 94, começou então a era de ouro da seleção, com o técnico Bernardinho.
Pivô dessas mudanças, Ana Moser não quer nem pensar em ficar fora da Olimpíada. Por isso, não fala de meses, nem do futuro, mas de cada dia. Sua conta é a do progresso da contusão degrau por degrau. Nisso, ela lembra Hakeem Olajuwon, do basquete, que afirma que o caminho é se concentrar no obstáculo mais imediato e que, se você se preocupa com a guerra, acaba perdendo a batalha.

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