São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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Desequilíbrio entre grupos ameaça sucesso da Euro-96

SÍLVIO LANCELLOTTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Não poderia ser pior. Como já havia acontecido, dias antes, na definição das chaves eliminatórias para o Mundial da França, a maldição do ranking e do sorteio lançou seus azares sobre a composição dos grupos da Eurocopa-96.
Nos dois torneios haverá chaves intrincadíssimas e grupos grotescos no seu desequilíbrio.
Tudo porque as entidades organizadoras do futebol no planeta insistem em montar o tal ranking com base na mística nefanda do passado e da história -e não na realidade transparente do presente.
Em vez de usar, por exemplo, a superclassificação, atualizada, que ela mesma divulga mensalmente, o melhor retrato possível do futebol de hoje, a Fifa fundamentou o bingo do Mundial nas médias das três últimas edições do torneio.
Num equívoco mais grave, a Uefa (confederação européia) não considerou as modificações políticas que redesenharam a geografia do Velho Continente depois do estilhaçamento do comunismo nem a recente ascensão de seleções como Croácia e Portugal.
No sorteio das quatro chaves da fase inicial da Euro-96, a Uefa sumariamente escolheu, como cabeças, a Inglaterra, anfitriã, a Dinamarca, campeã de 1992, a Alemanha, vice, e a Espanha, com mais pontos nas eliminatórias.
Os outros 12 times a Uefa lançou num mesmo saco, igualando a Holanda e a Turquia -e correndo o risco nefasto de extrair do seu sorteio um certame desbalanceado e de duvidoso sucesso técnico e comercial.
No Grupo A, jogos em Londres e em Birmingham, caberá à Inglaterra, por exemplo, se digladiar com a Holanda, já a favorita dos apostadores, com a sua rivalérrima Escócia e com a crescente Suíça.
No Grupo B, jogos nas cidades de Leeds e Newcastle, bem ao contrário, a Espanha pegará a irregular Romênia, a França, em formação, e a Bulgária, envelhecida.
No Grupo C, jogos em Manchester e em Liverpool, impiedosamente o bingo antepôs a Alemanha, a Itália, a surpreendente República Tcheca e a Rússia.
No Grupo D, enfim, jogos em Sheffield e em Nottingham, a excelente Croácia e o ascendente Portugal certamente se livrarão sem muitos problemas da frágil Turquia e da Dinamarca, sem dinheiro e cada vez mais decadente.
Os analistas do continente lastimaram, quase unanimemente, o resultado do sorteio.
Não apenas por causa da composição das chaves, mas, particularmente, pelo que o regulamento prevê para depois, na etapa das quartas-de-final.
As três outras seriam Holanda, Inglaterra e Espanha.
Apenas os dois melhores de cada uma das chaves passarão às quartas.
Pelo regulamento, se defrontarão, respectivamente, o primeiro do A e o segundo do B, o primeiro do B e o segundo do A, o primeiro do C e o segundo do D e o primeiro do D e o segundo do C.
Consequência inevitável será um duelo prematuro e fatal entre Alemanha e Itália, ou República Tcheca, contra Croácia e Portugal.
Imaginam os analistas que uma saída de Alemanha ou de Itália, já nas quartas, redundará numa queda em torno de 30% na arrecadação do torneio. A eventual desclassificação da Inglaterra significará um rombo de 50%.
Lennart Johansson, o sueco presidente da Uefa, não se abala com as críticas: "O futebol não se decide no papel. Além disso, quem deseja ser campeão não pode escolher os seus adversários".
Correto. Um sorteio mais bem dirigido, de todo modo, com certeza minimizaria as chances de prejuízos que parecem inevitáveis.
A competição inter-seleções começa no dia 8 de junho e prolonga-se por três semanas.

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