São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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Opção de espanhóis era 'africanizar-se'

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

A melhor avaliação dos resultados para a Espanha do ingresso na União Européia é o contraponto formulado pelo ministro de Obras Públicas, José Borrell:
"Se a Espanha tivesse ficado fora da UE, agora seria uma extensão da África do Norte".
É um exagero, claro. A similitude da Espanha com a África do Norte, dentro ou fora da União Européia, se limitaria à vizinhança geográfica.
Mas é, de toda forma, uma maneira simbólica de dizer que, se não tivesse ingressado no conglomerado europeu, a Espanha teria ficado muito para trás na comparação com os demais países da região, em especial aqueles mais ricos.
Com a integração, aconteceu o contrário: aproximou-se mais da média européia, em termos de renda por pessoa.
Em 1985, último ano antes do ingresso na então chamada Comunidade Econômica Européia, cada espanhol tinha uma renda 27,5% por cento inferior à média dos demais europeus do bloco.
Hoje, a inferioridade é de apenas 20%, aproximadamente.
Mais: a qualidade de vida, em grande parte associada à integração, cresceu tanto que o mais recente IDH (Índice de Desenvolvimento Humano, elaborado por um organismo das Nações Unidas) coloca a Espanha em nono lugar no mundo.
O IDH, ao contrário do PIB (Produto Interno Bruto), que só calcula a quantidade de riquezas produzidas em um dado país em um período determinado, inclui também indicadores sociais, como escolaridade, saúde etc.
Na questão social, aliás, a Espanha avançou muitíssimo mais do que seus sócios europeus, a ponto de superar a maior parte deles em alguns itens. É, por exemplo, o segundo país em baixa fertilidade no mundo, após a Itália.
Cada espanhola tem apenas 1,4 filho e, em algumas regiões, menos ainda (apenas 1).
A expectativa de vida dos espanhóis passou a ser a maior da UE, com 73,1 anos. Das espanholas, é a segunda maior (79,6 anos), perdendo apenas para a Itália.
Claro que nem tudo são flores. A Espanha ganha também de seus parceiros em um capítulo particularmente dramático: o maior índice de desemprego (perto de 22%).
Em parte, o desemprego é consequência do que se convencionou chamar de reconversão industrial, eufemismo para designar fechamento de setores econômicos não-competitivos, uma necessidade para enfrentar os desafios da integração.
Mas desafios maiores ainda são os que a Espanha tem pela frente, se não quiser ficar de fora da moeda única européia, cuja introdução está prevista para 1999.
Pelas regras do jogo, o déficit público de cada país europeu não poderá ser superior a 3% do PIB em 1998, o ano prévio à moeda única, batizada de euro.
Ora, a Espanha está com o dobro dessa cifra (6,8% em 94 e previsão de 6% em 95).
Reduzir o déficit implica reduzir igualmente o colchão social criado em especial pelo governo Felipe González, que tenta imitar os mais avançados da Europa.
Essa redução não jogará a Espanha para a África do Norte, mas pode torná-la algo mais distante da Europa.
(CR).

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