São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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Portugueses temem perda de soberania

JAIR RATTNER
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LISBOA

O euroceticismo surge em Portugal apesar de a maior parte dos indicadores econômicos apresentarem números positivos.
Além dos problemas antigos -o país continua a ter os salários mais baixos do Espaço Econômico Europeu e os índices mais altos de analfabetismo- começa a ser sentida o que os portugueses julgam ser a pior consequência da UE: a perda da soberania.
A disputa econômica com a Espanha, única e poderosa vizinha portuguesa, vem sendo desfavorável ao país. Apesar dos votos contrários do comissário português, Bruxelas optou por dar para a Espanha a maior parte da quota de pesca de palmeta reservada à Europa, ameaçando o setor pesqueiro português, e pretende diminuir a produção de tomate, do qual o país é o maior produtor do continente.
O resultado mais visível da participação portuguesa na UE foi a construção de rodovias. O maior exemplo foi a conclusão da auto-estrada entre Lisboa e Porto (as duas maiores cidades do país), com 300 km, que demorou 30 anos para ser construída.
Apenas para formação profissional, os portugueses receberam mais de 18 bilhões de euros (nova denominação dos ECUs, a moeda européia, o que equivale a R$ 22,32), criando uma indústria de cursos de aperfeiçoamento.
Mesmo assim, em 1993, o ano em que maior número de portugueses passaram pelos cursos financiados por Bruxelas, foi aquele em que houve maior crescimento do desemprego. Atualmente, o número de desempregados chega aos 450 mil, o que representa cerca de 7,5% da população economicamente ativa.
Na área industrial, o grosso dos fundos para a modernização foram concentrados num número reduzido de empresas -como foram o caso dos projetos da Ford e Volkswagen, para produzir um novo veículo em Portugal. Portugal conseguiu registrar o segundo maior índice de crescimento industrial da Europa, 26%, abaixo apenas da Irlanda, que cresceu 71,3%. A média européia foi de 10,7%.
Os eurocéticos acham que criou-se uma dependência dos subsídios. Muitas empresas apenas apresentavam projetos para obter mais fundos, viciando o objetivo de modernização da economia.
Na agricultura, foram distribuídos subsídios com critérios duvidosos: um ex-ministro das Finanças chegou a receber fundos como agricultor jovem enquanto era professor universitário.
(JR)

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