São Paulo, terça-feira, 2 de janeiro de 1996
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Morre o dramaturgo alemão Heiner Müller

DA REPORTAGEM LOCAL; COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O dramaturgo alemão Heiner Müller, morto no sábado aos 66 anos, será enterrado no mesmo cemitério onde estão sepultados os escritores Bertold Brecht e Heinrich Mann -o cemitério de Chausseestrasse, em Berlim.
A notícia foi divulgada ontem pelos integrantes do Berliner Ensemble, o teatro que era dirigido por ele. Eles não informaram a data do funeral, mas disseram que foi o próprio Müller, autor de "Hamletmachine" e "Medeamaterial", que pediu para ser enterrado na cidade.
Atores de vários teatros decidiram fazer uma homenagem a ele, lendo seus textos teatrais e poéticos. Müller sofria de câncer no esôfago e havia sido operado recentemente. Segundo a agência de notícias "Ansa", a causa da morte foi uma pneumonia.
Considerado um dos mais importantes autores do teatro contemporâneo alemão, tendo escrito mais de 25 peças ao longo de sua carreira, Müller nasceu em 1929.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a divisão de seu país, se fixou em Berlim Oriental.
Decisão justificada por sua orientação marxista, sedimentada pelo trabalho e amizade com Bertolt Brecht (1898-1956), diretor do legendário Berliner Ensemble.
Um revolucionário que tentava entender o Ocidente por meio de seus próprios mitos, Müller criou em várias de suas peças releituras de obras clássicas, como "Prometeu", "Medéia" e "Hamlet".
Sua peça "Hamletmachine" serve como exemplo desse processo, pois usa Hamlet, personagem criado por Shakespeare, para enfrentar o próprio teatro e suas tradições. O Hamlet de Müller dialogava com Lênin e Mao Tse-tung, ao mesmo tempo que acertava contas com Brecht.
Uma ousadia que sempre ocasionou atritos com os comunistas da República Democrática Alemã, que classificou seu trabalho de "niilista, desesperançado e moralmente subversivo". Mas que não impediu que fossem aclamadas na Alemanha Ocidental.
Muitas de suas peças foram montadas no Brasil. Entre elas "Quartet", com direção de Gerald Thomas, "Hamletmachine" por Márcio Aurélio e "Medeamaterial", por Márcio Meirelles.
Quando esteve no país em 1988, a convite da Folha, falando sobre a situação alemã, Müller disse que morava "em país socialista e era um socialista, apesar de não ter muitos motivos para isso".
Depois da unificação das duas Alemanhas, chegou a afirmar, com um tom irônico, em várias entrevistas que achava que as pessoas tinham posto fim ao comunismo apenas para "ter o direito de comprar vários tipos de xampu".

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