São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Dia mais calmo teve fuga na psiquiatria

ALESSANDRA BLANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem mesmo a falta de pacientes conseguiu evitar tumultos ontem, terceiro dia de implantação do PAS, na porta do hospital municipal de Pirituba (zona norte de SP).
Funcionários do hospital que não aderiram ao PAS (Plano de Atendimento à Saúde) chegaram ontem para bater o ponto às 7h, na troca de plantão, e foram impedidos de entrar pela segurança.
Uma lista com o nome dos médicos e funcionários do hospital que não aderiram ao PAS foi publicada ontem no "Diário Oficial do Município" determinando sua transferência para outras unidades.
Mas cerca de 80 funcionários -entre assistentes e auxiliares de enfermagem- disseram ontem que não foram informados sobre a transferência. Mesmo depois de verem seus nomes publicados no "Diário Oficial", os funcionários permaneceram na porta do hospital, aumentando a confusão.
Além disso, dois pacientes da psiquiatria fugiram do setor e subiram no prédio do almoxarifado do hospital. O primeiro paciente foi recuperado pela Guarda Civil Metropolitana ainda no andaime.
Já o paciente José Averaldo da Silva conseguiu subir no prédio e ameaçou os policiais com uma barra de ferro.
"Sou capaz de fazer com qualquer um o que fizeram comigo", disse. Silva permaneceu no topo do prédio por cerca de 20 minutos e foi recuperado por guardas-civis.
O diretor do hospital, Sérgio Zawitoski, disse não ter explicação para o que ocorreu, mas afirmou que havia um psiquiatra no hospital para atender aos doentes.
A Folha esteve ontem às 8h dentro do hospital junto com uma comissão formada por membros do Conselho Regional de Medicina, Sindicato dos Médicos e dos conselhos dos fonoaudiólogos, enfermeiros, psicólogos e farmacêuticos, que faziam uma vistoria.
Nesse horário, não havia psiquiatras no hospital. A sala de psiquiatria estava trancada com oito pacientes dentro.
Nove médicos do PAS -dois clínicos gerais, dois cirurgiões, um anestesista, um ortopedista, um ginecologista e dois pediatras-, além de uma pediatra diarista, faziam o atendimento ontem.
O diretor do módulo de atendimento da região Perus/Pirituba, Jairo Luiz Ramos, confirmou que esse número não é o suficiente para atender à atual demanda do hospital, 650 pacientes por dia.
"Ainda estamos em fase de adaptação. Não temos alguns especialistas, mas a cooperativa já está providenciando", disse.
Segundo Ramos, o ideal para o hospital seriam 12 médicos. Segundo a tabela de lotação de pessoal ideal, seguida pela prefeitura e pelo Conselho Regional de Medicina, para atender 650 pacientes deve haver 23 médicos.
A direção do hospital não soube informar qual foi a queda na procura por pacientes. Mas, das 8h às 9h, por exemplo, apenas uma paciente foi atendida na pediatria.
A direção do hospital disse que a falta de pacientes se deve às notícias veiculadas sobre o local, que teriam assustado as pessoas.

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