São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Mortalidade em hospital 'sem PAS' fica próxima à de Pirituba

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A julgar pela relação mortes-atendimento dos últimos três dias, o hospital de Pirituba não está pior -nem melhor- que outro hospital municipal, o Tide Setubal, da zona leste.
Os dois hospitais têm perfis parecidos -atendem a populações pobres da periferia e contam com infra-estrutura e recursos humanos semelhantes. Nos dias 31 de dezembro, 1º e 2 de janeiro, o pronto-socorro de Pirituba recebeu 641 pacientes. Onze pessoas morreram, incluídos aí pacientes internados.
No mesmo período -domingo, segunda e terça-, o hospital Tide Setubal atendeu cerca de 780 pacientes no PS. Foram registradas 12 mortes, dez no pronto-socorro e duas entre doentes internados.
Por esses números -fornecidos pelos próprios hospitais-, a taxa de mortalidade em Pirituba foi de 2,02%. No Tide, 1,53%.
O Tide Setubal tinha ontem 85 leitos ativados, cerca de 30 a mais que o hospital de Pirituba. O Tide foi programado para ter 170 leitos.
Os dois hospitais sofrem com a falta de pessoal e infra-estrutura. Nenhum deles tem Unidade de Terapia Intensiva, apesar de receberem grande número de pacientes graves. Dez anos atrás, o Tide era o principal hospital municipal da zona leste e chegava a atender 1.500 pacientes-dia.
No mês de novembro passado, o Tide Setubal teve de remover para outros hospitais 261 doentes -quase dez por dia- por falta de leitos, pessoal ou infra-estrutura. "Às vezes só conseguimos remoção dois ou três dias depois. Nesse tempo, o doente corre grande risco, aumentando o número de mortes", disse João Tenório Lins Filho, diretor-clínico do hospital.
Às 15h de ontem, 35 pessoas esperavam no PS do Tide. O gari José Carlos da Silva, 21, disse que sentia dores no corpo e aguardava na fila havia cinco horas.
Delma Maria dos Santos veio com o filho Ednei, 9, de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, em busca de um pediatra. "No posto do bairro não tinha médico", afirmou.
A dona-de-casa Maria Leonice Almeida, 29, chorava com uma criança no colo depois de informada que não havia pediatra para atendê-la. "Demoraram quase uma hora para dizer isso." Maria Leonice disse que levaria a filha até o hospital Tatuapé, distante 50 minutos de ônibus.
Tenório Lins afirmou que o hospital dispunha de um pediatra naquele momento, "o que não ocorre em todos os plantões".
"Temos grande dificuldade em manter as equipes", disse. No plantão do sábado à noite, só há um pediatra para um quadro que deveria ter seis. No último sábado, só compareceram sete médicos, menos de um terço do necessário. "Estamos sempre correndo para repor as equipes", disse o diretor.

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