São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Com o chapéu alheio

O isolado sítio de Wye Plantation, no Estado americano de Maryland, aloja um encontro até há pouco impensável. Representantes dos governos sírio e israelense iniciam negociações para findar um conflito que se arrasta há décadas.
Negocia-se basicamente o domínio da região de Golan, um território tomado dos sírios na Guerra dos Seis Dias, em 1967, que hoje responde por quase a metade do suprimento de água de Israel. Mas uma outra questão, não menos importante, mal tem aparecido nos rodapés do noticiário internacional: qual o futuro do Líbano?
Atualmente um protetorado sírio, dominado ao sul por uma milícia cristã apoiada por Israel, o Líbano corre o risco de virar uma moeda de barganha, à sua revelia, nas negociações em Maryland.
A soberania da outrora chamada "Suíça do Oriente Médio" começou a desmoronar ainda em 1975, em um conflito entre cristãos e muçulmanos, no qual acabaram por se envolver israelenses, sírios, palestinos e países da Otan. Assim, o Líbano teve durante anos o mesmo triste status no noticiário que hoje se reserva à ex-Iugoslávia.
Por fim, a Síria aproveitou-se do desgaste dos demais contendores, assumiu a supremacia militar e impôs um governo fantoche ao país. Agora, o Líbano é mostrado em plena reconstrução, avalizada, porém, pela "paz das botas".
Se for reduzida a um mero detalhe do eventual acordo entre Israel e Síria, é pouco razoável supor-se que a paz no Líbano possa ser completa e duradoura. Seria um acordo obtido à custa da limitação da soberania de um país milenar.

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