São Paulo, sexta-feira, 5 de janeiro de 1996
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Maradona se trancava às escuras para usar drogas

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

O jogador argentino Diego Armando Maradona, 35, afirmou que se mantinha em isolamento e que sentia vergonha da mulher, Claudia, e das filhas, Dalma e Giovanna, quando consumia drogas.
"Em um primeiro momento, eu sentia que a droga me divertia. Mas, depois, eu não queria escutar música, não queria ver minha mulher. Tinha vergonha dela. Depois, me isolava de todo o mundo."
A declaração integra uma entrevista que Maradona concedeu à revista argentina "Gente", que chegou às bancas do país anteontem em encarte especial de 16 páginas.
O jogador revela que costumava se drogar escondido, em banheiros, com a luz apagada, para que ninguém o visse. Em uma dessas ocasiões, sua filha Dalma bateu na porta. "Quase morri."
"Eu punha chaves por todos os lados. Sentia pavor em pensar que milhas filhas pudessem me ver."
Maradona diz que é a "cabeça mais visível de todos os drogados argentinos" e que gastou mais de US$ 300 mil (dez vezes o salário que recebe no Boca Juniors) em tratamentos contra a dependência.
As declarações fazem parte da estratégia do jogador para mudar sua imagem no país, abalada por duas suspensões do futebol e pela sua detenção, em 1991, por porte e consumo de drogas.
A primeira tática concentrou-se em seu retorno ao futebol argentino, pelo Boca.
A outra estratégia foi assumir publicamente sua dependência à cocaína e converter-se em garoto-propaganda da campanha "Sol sem drogas", criada pelo governo da Província de Buenos Aires para alertar os jovens durante o verão.
"Vou encarar essa campanha como se fosse um campeonato do mundo", afirmou Maradona.
Durante a entrevista, o ex-capitão da seleção argentina teve o cuidado de afirmar que jamais usou drogas como estimulante.
"Se você toma cocaína para jogar futebol, não pode. A cocaína não serve para você ser o melhor no campo... Não serve para nada."
"Não cheguei a ser o melhor do mundo drogando-me. Porque meu talento no futebol é um talento sem drogas", completou.
Nas frases seguintes, entretanto, Maradona afirma que experimentou jogar drogado, mas não explica se em treinos, entre amigos ou em partidas oficiais.
"Meu cérebro tentava dar ordens, mas meu corpo não as cumpria", declarou.
Consciente de sua dependência e das dificuldades para controlá-la, Maradona admitiu que passou por tratamentos repressivos inócuos.
Um deles foi se submeter, por decisão judicial, a uma série de psicoterapia contra sua vontade.
Maradona reconheceu que o apoio de sua família foi essencial para sua recuperação. Também mostrou-se arrependido e disposto a servir de exemplo aos jovens.
"Se eu não tivesse apostado no tratamento, talvez os jovens não tivessem nem o Maradona jogador, nem o Maradona homem, nem o Maradona nada."

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