São Paulo, sexta-feira, 5 de janeiro de 1996
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As águas de sempre

A cidade de São Paulo viveu anteontem mais uma das inundações que infernizam o paulistano. Elas são tão periódicas que já parecem fazer parte do calendário móvel da cidade, equiparando-se à Semana Santa ou ao Carnaval.
Lamentável, nessa rotina, é que os administradores não têm sido capazes de imaginar soluções preventivas. Aliás, a ocupação desordenada do solo urbano -aparente causa principal das cheias- indicam que dificilmente se poderá, de fato, prevenir futuras enchentes.
A cada enchente, portanto, os mandatários passados e presentes dão um atestado de má conduta. No caso dos atuais governantes, porém, o atestado é duplo: não atuaram preventivamente e tampouco agiram para ao menos remediar a situação no momento crítico.
Sabe-se há tempo que qualquer chuva acima do normal alaga conhecidas e vastas áreas. Não obstante, cada vez que chove muito a população fica absolutamente indefesa. Não surgem guardas de trânsito para indicar caminhos alternativos ou, no mínimo, para impedir que os motoristas entrem nas grandes avenidas transformadas em autênticas armadilhas. Não há defesa civil rápida para socorrer quem tem suas casas alagadas ou, nos piores casos, sob risco de desabamento.
Assim, quem escapa das águas cai no congestionamento. Quando não é simultaneamente assaltado, como ocorreu na Zona Sul.
Nessa época do ano, os paulistanos do final do século ainda olham para os céus como os primitivos o faziam em priscas eras: com temor reverencial, reduzidos a orar e pedir clemência.

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