São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Paulistanos vivem 'pânico de chuva'

Um trovão basta para sair correndo

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As chuvas de verão, além de causar engarrafamentos e tragédias, criaram mais uma síndrome para os paulistanos: o pânico de chuvas.
Traumatizadas com a tempestade da última quarta-feira, muitas pessoas não podem nem ouvir um trovão que correm para casa.
"Olha aquela nuvem preta, acho que vai cair um temporal", dizia o analista de vendas Mário Bruno, 44, no fim da tarde da última sexta-feira, quando, mais uma vez, choveu em São Paulo.
Bruno sai do trabalho, na av. Ipiranga (zona central) às 18h. "É sempre a hora da chuva. Só penso em sair correndo para o metrô", disse.
A contadora Kátia de Araújo, 22, é outra vítima da síndrome. Ela ficou presa em um engarrafamento de quarta-feira por duas horas.
O trauma foi tão grande que ela não teve coragem de dirigir na quinta e na sexta.
"Meu marido veio me trazer e me buscar no trabalho. Fiquei muito traumatizada", disse.
O estudante Luís Rodolfo Cruz, 22, não chega a deixar de dirigir, mas criou uma técnica para lidar com seu maior pânico. "Tenho pavor de ficar preso no trânsito."
"Se ouço um raio, fico onde estou. Até paro no meio da rua. Na quarta-feira, entrei em um McDonald's e fiquei lá até a chuva passar", disse.
O medo da chuva fez com que o auditor Chistiano de Moraes, 22, largasse o trabalho pela metade na última sexta-feira.
"Eu estava em um banco de Osasco resolvendo uns problemas e, quando vi que o céu tinha ficado preto, saí correndo."
Ele diz que o seu maior medo nos dias de chuva é cair na marginal Tietê.
"Aí é um horror. No verão, evito passar por lá."
A farmacêutica Sandra Regina Gutierrez, 41, também não gosta de passar pela marginal, mas é obrigada a fazer isso todos os dias. Ela trabalha em Campinas (99 km de SP) e vai de São Paulo para lá de ônibus.
"Eu fico superapavorada. Só vou mesmo porque não tem jeito. Na quarta-feira, levei um hora a mais para chegar em casa", diz Sandra, que nos dias de verão não sai de casa sem levar uma capa de chuva na bolsa.

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