São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Soldado foi o herói dos anos 60 e 70

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O herói Wang Hai é o Lei Feng dos anos 90. A 5 de março de 1963, o então dirigente comunista Mao Tse-tung cunhou o slogan "Aprender com o Camarada Lei Feng", exortando a população a copiar o comportamento de um soldado tido como um "comunista modelo".
Lei, segundo a historiografia oficial, "sempre ajudou a quem podia". Livros escolares descrevem-no como "um representante do povo, que não promovia atos espetaculares, mas tinha uma vida comum, cheia de boas ações".
O soldado Lei Feng, sempre que viajava de trem, "ajudava os mais velhos e qualquer pessoa que enfrentasse dificuldades". Dedicava parte de "seu pequeno salário aos chineses que sofriam com desastres naturais, como enchentes".
Existem livros distribuídos pelo Partido Comunista que listam essas boas ações de Lei Feng. Ele nasceu em 1940 na cidade de Changsha, sudeste da China. Ficou órfão aos 7 anos.
Em 1949 os comunistas chegaram ao poder, vitoriosos na Guerra Civil. Lei Feng começou a trabalhar em 1956. No ano seguinte ingressou na Juventude Comunista.
Trabalhou na construção de represas e canais, virou tratorista e depois metalúrgico. Segundo sua biografia, cumpria as tarefas do PC "com perfeição".
Em 1960 alistou-se no Exército. Foi condecorado várias vezes, por causa de suas demonstrações de "altruísmo e bondade". Morreu num acidente de carro em 16 de agosto de 1962, para entrar na galeria de heróis comunistas.
Zhou Enlai, então o número dois na hierarquia do regime comunista, listou o que a população deveria aprender com o herói morto: a) sua origem social: ele odiava o inimigo capitalista e amava o povo, b) espírito revolucionário, que mantinha coerência entre palavras e atos, c) estilo comunista de altruísmo e d) força de vontade proletária para lutar com coragem.
Nos anos 60 e 70, virou moda na China batizar os filhos com o nome de Lei Feng. Correspondia a uma confissão de lealdade ao PC.
Até hoje Lei Feng sobrevive em livros didáticos e em estátuas espalhadas por escolas e fábricas. Mas a revolução capitalista iniciada no final dos anos 70 rouba espaço do "soldado modelo".
Como os valores mudam numa sociedade que passa a priorizar o consumo, há quem diga que em alguns anos o nome Wang Hai pode se tornar moda entre os pais que buscam idéias para batizar seus filhos.
(JS)

Texto Anterior: Escassez dá lugar a consumo
Próximo Texto: Política mexicana mantém apoio apesar de crise
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.