São Paulo, segunda-feira, 8 de janeiro de 1996
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Economistas prevêem trimestre retraído

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Inflação controlada e cadente. Economia andando devagar. Juro elevado, mas baixando no ritmo lento do BC (Banco Central).
Se nove em dez estrelas preferem um determinado sabonete, nove entre nove analistas de bancos traçam um cenário muito similar para o primeiro trimestre de 1996.
"O que indica uma realidade de estabilidade", diz Pedro Bodin, ex-diretor do BC (Banco Central) e, atualmente, no Banco Icatu.
Bodin acredita que a economia vai demorar para se recuperar. "A vontade de emprestar não vai voltar tão cedo. A oferta de crédito vai continuar muito retraída."
Até porque vai acontecer uma nova onda de inadimplência. As razões são explicadas por Deiwes Rubira de Assis, do ING Bank.
"Os grandes dissídios já passaram. Começam a vencer os 'borrachudos' de Natal e as faturas dos cartões. Além disso, o trimestre concentra muitos pagamentos extras, como o do IPTU e IPVA."
Em suma, as pessoas físicas terão menos renda disponível -até porque, e este é o quarto fator, vão ter de enfrentar o reajuste das tarifas públicas, como as de energia.
Iniciada entre pessoas físicas, a onda de inadimplência deve respingar nas empresas. Mas o próprio temor do crédito fará com que o volume das perdas seja menor do que o do ano passado.
Segundo Bodin, ao longo do trimestre devem ficar mais fortes as pressões para que o governo reaqueça a economia. Como? Aumentando seus gastos. Bodin espera que o governo resista. Bravamente.
É com os gastos do governo que os analistas estão preocupados. "96 é o ano da verdade para o Plano Real. Ou as reformas andam ou vai se ficar com o que se tem hoje mesmo, com essa economia que não vai ficar melhor", diz Deiwes.
Há esperança. A privatização tem andando em um ritmo tão lento que, esperam, deve aumentar.
Bodin chama ainda a atenção para a postura do governo com o dissídio do funcionalismo. "Quando o Malan (o ministro da Fazenda, Pedro Malan) diz que os gastos mensais com a folha crescem de 2% a 3%, o que ele está colocando? A necessidade da reforma administrativa."
Os economistas de bancos não estão radicais. Não é preciso que todas as reformas sejam feitas, apenas que começem a ser feitas.
Se o taxímetro começar a girar, como diz Fábio de Oliveira, do Banco de Boston, o mercado tende a valorizar o "lado Luiza Brunet do Brasil". Ponto para as Bolsas.
Os analistas apostam em uma boa performance do mercado acionário até março. "Deve subir 20% em dólar", prevê Deiwes.
Alexandre Zakia, do BBA Creditantalt, enumera outros fatores favoráveis. A liquidez deve aumentar, os preços em dólar estão relativamente baratos e a reforma administrativa deve sair. Além disso, "o juro nominal tem de cair. O governo gastou US$ 15 bilhões com o pagamento de juros da dívida interna, algo como 2,8% do PIB (Produto Interno Bruto)".
Deiwes acredita que, por conta desse custo elevadíssimo na rolagem da dívida, em março, "o BC joga a toalha" da atual política de juros extorsivos.
Fábio de Oliveira lembra ainda que a Bolsa está sob o "efeito janeiro" -o processo de realocação de aplicações de estrangeiros para a renda variável (Bolsas) e para os mercados emergentes devido à queda dos juros no mundo.
Oliveira diz que, para quem tem mais de R$ 5 mil para aplicar, 20% devem seguir para as ações. O restante fica na renda fixa, preferencialmente em um fundo de 60 dias de renda fixa.
É mais ou menos a divisão proposta pelos demais analistas. Mas quem tem um apetite maior por riscos pode aplicar até 45% do recursos em ações.
No caso dos pequenos investidores, a melhor alternativa ainda é a tradicional caderneta de poupança. Zakia e Oliveira apostam na mudança do redutor da TR, o que melhoraria a performance da caderneta.

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