São Paulo, segunda-feira, 8 de janeiro de 1996
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A quatro mãos (4)

WASHINGTON OLIVETTO; TETÊ PACHECO

WASHINGTON OLIVETTO e TETÊ PACHECO
Propaganda foi o vestibular mais concorrido, e as mulheres, boa parte dos candidatos.
Alguns ingênuos ou chauvinistas viram isso como novidade, mas o sucesso das mulheres na propaganda vem de muito tempo.
Nos EUA, a Advertising Women of New York foi fundada em 1912, muito antes de o mundo racionalizar que existia propaganda e de Claude Hopkins escrever o primeiro livro importante sobre o assunto -A Ciência da Propaganda-, nos anos 30.
No Brasil, a mulher publicitária também não é um fenômeno recente: vem desde os anos 50. E, hoje, temos presidentes, diretores de criação, de atendimento, de mídia, redatores e diretores de arte mulheres na maioria das agências.
Muitas extremamente bem-sucedidas, como é o caso da criadora Tetê Pacheco, que eu convidei para dividir este "A quatro mãos".
Nascida em Porto Alegre, trabalhando em São Paulo há três anos, Tetê vem se destacando com campanhas de forte impacto, como é o caso de "Peruas", do Boticário.
Construiu uma carreira sólida, ganha um salário invejável e, o que é melhor, tudo isso sem deixar de ser bonita, charmosa e feminina.
A geração da sua mãe ou avó precisou queimar sutiãs -a sua paga caro por eles. Com alguma maturidade e alguma segurança, você descobre que o que faz uma mulher ter sucesso profissional hoje não é trabalhar como o homem -é, simplesmente, trabalhar.
Criação publicitária, por ser menos científica e mais intuitiva, é um campo onde os profissionais são bastante valorizados pela sua sensibilidade. Bingo! Se você é mulher, este assunto é com você mesma.
Isso não significa, evidentemente, que os homens não possuam tal atributo. Trabalho com vários que criariam comerciais de absorventes com a mesma naturalidade com que eu escreveria um anúncio técnico sobre rolamentos.
É só ter bom senso e algum talento. Ou vice-versa.
Já que mulher na propaganda não é um fato novo, a novidade talvez esteja na recente conquista da diferença e não na já desgastada busca da igualdade entre os sexos.
A mulher, que historicamente sempre esteve no papel da seduzida, pode, finalmente, usar os séculos de experiência acumulada para seduzir. Propaganda é isto: sedução. Veja o nome desta coluna: Criação & Consumo.
Não são assuntos extremamente familiares para você?
Homens bem-sucedidos no trabalho são muitos. Mulheres não são tantas. Sorte sua. Não fazendo parte da maioria, você já começa com mais chances de se destacar.
Preocupando-se menos com a igualdade e passando a constatar as diferenças, as coisas podem ficar bem mais estimulantes.
Salário, por exemplo. É ótimo que existam diferenças.
Do contrário, você nunca teria a possibilidade de ganhar mais que o seu colega do sexo masculino.
Guardadas as crises de choro, mulheres ficam ótimas no papel de mulheres. Seja qual for a escolha profissional que façam. Relaxe e aproveite. Hoje, você pode se dar ao luxo de ser feminina em vez de feminista.
Só não esqueça que aquela mulherzinha de tailleurzinho, linda, com cabelos sedosos e balançantes, fazendo charme numa mesa de reuniões, não convence nem em comerciais de xampu. Menos ainda na vida real.

WASHINGTON OLIVETTO é presidente e TETÊ PACHECO é redatora da W/Brasil.

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