São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996
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Palavras mais claras

JANIO DE FREITAS

Quanto mais palavras procuram encobrir a nova manobra que busca a aprovação do Sivam, valendo-se de complacências no Tribunal de Contas da União e do fisiologismo de parlamentares, mais o encoberto se desvenda.
Escalado para fazer o segundo relatório do TCU sobre o Sivam, o ministro Adhemar Ghisi diz que o primeiro se limitou aos aspectos ligados à Esca (a empresa que, antes de excluída do projeto por fraude de R$ 7,5 milhões contra a Previdência, deu os elementos decisivos para a escolha da Raytheon, que figurara entre seus clientes). Mais importante, nas palavras do ministro ao "Globo":
"A Esca estava no meio do caminho, entre a Aeronáutica e a Raytheon, uma vez que seria ela a integradora do projeto. Está tudo inter-relacionado. Agora, no nosso ver, dá para dissociar a Esca do Sivam. Mas que ela está inter-relacionada com a Raytheon e a Aeronáutica, está."
Se está inter-relacionada com a contratada e com o contratante, por que "dissociá-la", que é esquecer a sua participação ilegal e imoral como estruturadora do negócio, se não for para aprovar a contratação da Raytheon apesar da maneira como foi escolhida?
Se não fossem a Esca e, depois, o pessoal da Esca que o Ministério da Aeronáutica contratou para ocupar dois terços da comissão de "seleção", a escolhida seria a Raytheon? Pela interligação que o ministro Ghisi atesta, na qualidade de autor de descobertas que agitaram a comissão senatorial contra o Sivam, a resposta só pode ser negativa. "Está tudo inter-relacionado." Logo, não "dá para dissociar a Esca do Sivam". Não dá, ao menos em sã consciência.
Já o presidente da comissão do Senado, senador Antônio Carlos Magalhães, informa que o assunto Sivam "tem de ser encerrado até o dia 7, não pode ficar atrapalhando a vida do Congresso e da nação". Curioso, até há pouco o que atrapalhava a vida da nação era a possibilidade de efetivar-se um negócio de R$ 1,4 bilhão recheado de irregularidades e imoralidades.
A pressa pode ser inimiga da perfeição, ao que afirma o ditado, mas nem por isso está impedida de ser amiga de certo tipo de manobras.
Mudança aérea
A Varig está nos preparativos finais de uma providência destinada a causar polêmica, entre os sempre prontos a louvar a reengenharia dita modernizante, sem considerar as essências das medidas, e os que procuram vê-las além da formalidade administrativa, embora nem sempre o façam com fundamento.
Trata-se da demissão de todas as suas tripulações de vôos internacionais e concomitante admissão do mesmo pessoal por empresas registradas pela mesma Varig no exterior. Os chefes das tripulações dos diferentes tipos de avião já foram avisados do plano de transferência pelo diretor de operações, Nelson Riet. Os tripulantes internacionais são aproximadamente 3.000.
O motivo da contratação no exterior é simples: gastar menos com previdência social e outros adicionais ligados à folha de pessoal, qualquer que seja o país em que isto seja possível, dentre aqueles para onde a Varig voa.
Se a moda pega, vai ser uma corrida para o exterior, começando pelas multinacionais.

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