São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996
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O acadêmico e o presidente

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Desconfio que descobri a solução para o Brasil sair do atoleiro em que mergulhou, a rigor desde que Pedro Álvares Cabral por aqui desembarcou.
E é simples: basta devolver Fernando Henrique Cardoso à cátedra e colocar em seu lugar, no Palácio do Planalto, alguém que faça tudo aquilo que o acadêmico Fernando Henrique acha que deve ser feito (ou, pelo menos, quase tudo aquilo).
Não é má vontade com o presidente ou saudades do acadêmico FHC. É que o acadêmico diz coisas que me parecem mais sensatas e corretas, e o presidente faz pouco, quase nada, do que o acadêmico diz.
Já havia sido assim no discurso de posse. Foi um bom discurso, com as ênfases basicamente corretas, as prioridades idem, o diagnóstico mais ou menos perfeito. O único problema é que ficou nisso, no discurso.
Agora, vem a caudalosa entrevista à revista "Esquerda 21", que irá às bancas nos próximos dias, e cujo texto a Folha obteve ontem.
Fica difícil escolher por onde criticar os diagnósticos e avaliações presidenciais, exceto nos pontos em que FHC faz a sua autolouvação. Mas até isso é compreensível. Afinal, ninguém há de querer que um governante se autodestrua, não é?
Concordamos, o presidente e eu, até na sua análise da mídia impressa. FHC acha que ela deve "mais interpretar e analisar o processo", sob pena de sucumbir na tentativa de concorrer com a catarata de informações on-line (que, aliás, será cada vez maior), por definição fragmentárias, o que inclui a TV.
Salvo erro de memória, foi mais ou menos isso o que escreveu o diretor de Redação desta Folha, Otavio Frias Filho, no dia 4 de dezembro, em texto para a página 1-3. O presidente ou não leu ou não se lembrou na hora da entrevista. Se o tivesse feito, teria discordado, só para inverter o processo e discordar dos que amamos discordar dele.
De novo, o principal problema da entrevista não está nos conceitos. Está na ação, que fica muito aquém do caráter "re-evolucionário" (a expressão é de FHC, não minha) que o presidente tributa à sua própria administração.
Em outras palavras, fico com a de Sérgio Motta: falta a este governo o "fazejamento".

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