São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
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Ciro diz que governo FHC não tem projeto

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes disse ontem em Recife (PE) que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso "é confuso, sem projeto para o Brasil", e que a maioria dos ministros "parece não ter tesão para enfrentar e resolver problemas".
Ele também criticou o que chamou de "aversão ao conflito" do presidente Fernando Henrique Cardoso: "O presidente não gosta de briga, gosta de acordo. Acredita nas virtudes da negociação, do diálogo".
Segundo Ciro Gomes, "imaginar que vamos transformar o Brasil tendo como mecanismo de transformação só o diálogo, a tolerância, a transigência, é pedir para fracassar".
Citou como exemplo desse fracasso a reformulação da Previdência, "estruturalmente quebrada" e necessitada de mudança.
"O presidente fez uma proposta para a reforma. Mas, logo de saída, o governo negociou e a proposta não saiu com a profundidade desejada."
O ex-ministro disse que "no final do projeto idealizado restará um arremedo, que não vai resolver nada. Por amor demais à negociação se perde de vista o objetivo que está sendo negociado".
Outro ponto do governo FHC criticado por Ciro foi a composição do ministério. "O presidente fez uma engenharia política errada ao montar seu ministério, superconcentrando poderes em São Paulo em detrimento do resto do país", afirmou.
Ele disse que essa composição "afrontou a tradição republicana federativa e presidencialista brasileira".
Ciro Gomes acha que a maioria dos ministros "não tem apetite" para enfrentar os problemas de suas pastas e "empurra para o presidente todo o desgaste que surja por conta desses problemas".
Ele não quis mencionar quais seriam esses ministros, preferindo citar as exceções: Pedro Malan, da Fazenda; Adib Jatene, da Saúde; Sérgio Motta, das Comunicações, e Paulo Renato de Souza, da Educação.
Ciro Gomes esteve ontem em Recife para lançar o livro "O Próximo Passo - Uma Alternativa Prática ao Neoliberalismo", que escreveu com o cientista social Roberto Mangabeira Unger, professor da Universidade de Harvard (Estados Unidos).

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