São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
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Queda-de-braço

MAURO TAGLIAFERRI

Pesquisa feita pela WRTV, canal de TV de Indianápolis, mostrou que 60,4% dos moradores daquela cidade são contrários às mudanças impostas por Tony George, dono do Indianapolis Motor Speedway, ao sistema de classificação para as 500 Milhas de 96.
Pelas novas regras, 25 das 33 vagas no grid da prova estão reservadas aos carros que participam do campeonato da Indy Racing League, rival da disputa da IndyCar.
Dos entrevistados, 50,9% dizem que a imagem fica maculada com as alterações; 79,2% acham que o formato tradicional não deveria ser modificado sob nenhum aspecto; e 56,1% afirmam que o interesse pela prova cairá se os astros da Indy não participarem.
Não é à toa que o resultado da pesquisa, claramente desfavorável a George, foi divulgado num dos boletins da IndyCar.
A entidade espera que, sem "ídolos" como Al Unser Jr., Michael Andretti e Emerson Fittipaldi, o campeonato da IRL -com as 500 Milhas- se torne um fiasco, desagradando seus patrocinadores.
Dessa forma, George não teria outra alternativa senão recuar e, já em 97, o filho pródigo tornaria, humilde, à casa de seu pai.
O raciocínio é arriscado. No 26 de maio, o Speedway de Indianápolis terá 400 mil pessoas, felizes, assistindo às 500 Milhas.
Não há Al Unser Jr.? Com umas latas de cerveja a mais no estômago do torcedor norte-americano, Arie Luyendyk vira o maior piloto do mundo. Criar ídolos de ocasião já faz parte da cultura dos EUA.
E mais. Quer tentar comprar hoje um ingresso para as 500 Milhas? Impossível. A venda começa um dia após a prova e os tíquetes duram pouco nas bilheterias.
Além do mais, há um sistema que privilegia o "cliente habitual" na compra do ingresso. Quem vai há mais tempo à corrida tem preferência. Tem gente que se senta na mesma cadeira há 50 anos. Indianápolis é uma tradição.
E, claro, é uma prova emocionante. Uma corrida de mais de três horas de duração, em que se atinge os 400 km/h a um palmo de um muro de concreto e na qual o resultado é sempre imprevisível se torna, por natureza, atraente. Nessas condições, pode colocar o time do Juventus correndo de bicicleta e o Speedway lotará mesmo assim.
O fato é que a IndyCar pode até sair vencedora nessa querela com a IRL, mas a briga vai exigir mais paciência do que se imagina. A queda-de-braço apenas começou.

José Henrique Mariante, em férias, volta a escrever a coluna a partir de 10 de fevereiro

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