São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
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O "p" da questão

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Já que o Senado parece inclinado a aprovar o contrato para o financiamento externo de US$ 1,4 bilhão destinado ao projeto Sivam, convém que os senadores saibam que o Sivam é praticamente inútil se não for implantado também o seu irmão siamês, chamado Sipam.
O Sivam é o Sistema Integrado de Vigilância da Amazônia. No Sipam, o "pê", de proteção, substitui o "vê", de vigilância.
Muito bem. O Sivam, sozinho, pode ser um bom sistema de controle de tráfego aéreo e nada mais. Mas, para executar apenas essa função, o Brasil poderia gastar 10% do US$ 1,4 bilhão previsto, conforme admitiram, em visita à Folha, os próprios funcionários da Raytheon, a empresa norte-americana incumbida do projeto.
Chegou-se ao US$ 1,4 bilhão pendurando-se outras funções de vigilância no Sivam (a ambiental e a policial, ou seja, a de detecção de vôos clandestinos, geralmente usados no tráfico de drogas ou no contrabando).
Mas de pouco adianta saber-se que há um avião fazendo um vôo clandestino se não houver estrutura para apreendê-lo (e à carga) e prender os ocupantes. Pois essa estrutura, a de proteção, não está incluída no custo do Sivam.
Vale idêntico raciocínio para a vigilância ambiental. Saber-se que determinada área está sendo danificada vira puro masoquismo se não se dispuser de uma fiscalização rápida e eficiente para prevenir e/ou reprimir a continuidade do dano.
Também essa face preventiva/repressiva cabe ao Sipam e, portanto, seus custos não estão incluídos no US$ 1,4 bilhão do Sivam.
Na prática, o que o Senado se prepara para aprovar é um Corpo de Bombeiros dotado de sofisticadíssimos sistemas de aviso de fogo, a um custo de US$ 1,4 bilhão. Mas, ao mesmo tempo, esse suposto Corpo de Bombeiros não está dotado nem de veículos nem de mangueiras nem de água para combater incêndios.
Ou, como disse editorial desta Folha, é um Rolls-Royce. E, pior, em um país em que 53% da população amazônica nem sequer tem banheiro.

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