São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Agi de forma independente, diz Barbosa

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Agência Folha - Por que o senhor pediu demissão e como foi o seu relacionamento com Cláudio Mauch (diretor do BC) durante a intervenção?
Barbosa - Conheço Mauch há 25 anos e meu relacionamento com ele é normal. Como todo ser humano, às vezes convergimos e divergimos, mas isto é normal. Pedi demissão porque meu trabalho acabou aqui.
Agência Folha - Qual foi o momento mais crítico durante o período da interventoria?
Barbosa - Os cinco meses que fiquei à frente do banco. Havia incertezas porque de todos os grupos que manifestaram interesse na compra, eu acreditava apenas em três. E destes três, um (Excel) resolveu assumir o banco.
Agência Folha - Comentou-se também no mercado que durante a intervenção o senhor agiu com independência em relação ao Banco Central. O senhor agiu assim mesmo?
Barbosa - Agi porque sou independente. Sempre fui independente durante 30 anos de BC.
Agência Folha - O Banco Bozano, Simonsen acusa o senhor de ter negado dados sobre o Econômico. O que de fato aconteceu?
Barbosa - Sobre isto eu não quero falar, acabou (no dia seguinte ao pedido de demissão, Francisco Flávio Barbosa distribuiu uma nota oficial dizendo que o Bozano, Simonsen nunca demonstrou interesse pela compra do Econômico).
Agência Folha - Sua gestão foi marcada por desentendimentos com a diretoria do BC. Gostaria que o senhor explicasse a questão do pagamento dos diretores do Econômico que foi suspensa. Por que os pagamentos foram suspensos?
Barbosa - Somente os diretores não-funcionários não estão recebendo. Suspendi não só porque achava que devia fazê-lo, mas porque eles (os diretores) também abriram mão dos salários, por escrito.
Agência Folha - Qual é a situação atual do Econômico?
Barbosa - É a mesma de antes da intervenção, mas o banco tem amplas perspectivas de retornar à normalidade, porque um grupo resolveu investir.
Agência Folha - Os empréstimos realizados anteriormente estão sendo pagos ou aumentou a inadimplência?
Barbosa - Estão sendo pagos e muitos clientes fizeram acordos.
Agência Folha - Como foi o relacionamento do senhor com o ex-presidente do Econômico Angelo Calmon de Sá? O senhor chegou a jantar com ele?
Barbosa - Meu relacionamento com Angelo Calmon de Sá é de respeito, porque ele está disposto a dar tudo que tem para cobrir os problemas do banco. Nunca jantei na casa dele. Isto é uma mentira deslavada da revista "Veja".
Agência Folha - O senhor acha que Calmon de Sá é o principal responsável pela atual situação do Econômico?
Barbosa - Não seria ele (Calmon de Sá) especificamente, mas todo o corpo diretivo. A própria administração do Angelo Calmon de Sá era muito fragmentada.
Agência Folha - O senhor acha que Calmon de Sá cometeu o crime do colarinho branco?
Barbosa - A Justiça é que vai dizer. Eu não posso julgar.
Agência Folha - Quanto era o ativo do banco à época da intervenção e quanto é hoje?
Barbosa - Na época da intervenção os ativos eram de R$ 7,4 bilhões. Agora, decresceram um pouco, depois dos acordos realizados com clientes.
Agência Folha - Como foi o relacionamento do senhor com políticos do PFL da Bahia, especialmente com o senador Antônio Carlos Magalhães. O senhor acha que ele exerceu algum tipo de pressão?
Barbosa - Não senti isso nem da oposição nem da situação. Todos se irmanaram no sentido de me ajudar. Mas aí não é só a classe política. Os empresários e a sociedade sempre acreditaram em uma solução para o banco.
Agência Folha - O senhor foi convidado pelo Excel para permanecer no Econômico. O senhor vai aceitar?
Barbosa - Não fui convidado, mas consultado. Não vou aceitar porque minha formação ética e moral não permite isso.
Agência Folha - Quem fez um bom negócio, o BC ou Excel? O senhor não acha o Excel muito pequeno para comprar um banco como o Econômico, o oitavo maior do país?
Barbosa - Não acho, porque a associação que fez com o banco estrangeiro (Union Bancaire Priveé) o fortifica. São R$ 24 bilhões de ativos, ou seja, três Econômicos. É um grupo forte.
Agência Folha - O Union Bancaire Priveé é um banco de administração de fortunas. O senhor acha possível que haja sócios brasileiros por trás dos negócios? Quem?
Barbosa - Não acredito. Se houver, vai ter que ficar claro, porque qualquer recurso brasileiro que retorne ao país ou qualquer recurso que vier externamente para ser aplicado em investimentos tem que ser registrado no BC.
Agência Folha - Que futuro o senhor vê para o Econômico após a venda? O senhor acha que virão muitas demissões?
Barbosa - Acho que o banco vai ter um período de adaptação bastante acentuado porque a conjuntura brasileira exige isso. Basta ver a quantidade de bancos e empresas que estão se enxugando. Em relação às demissões, não posso responder pelo Excel. Mas pelo que os dirigentes declararam, a tendência do banco é crescer ainda mais.
Agência Folha - O senhor acha que o BC demorou muito tempo para tomar uma posição em relação ao Econômico?
Barbosa - O BC sempre toma decisões na hora certa. E a hora certa foi aquela, no dia 11 de agosto passado.
Agência Folha - Como o senhor analisa os balanços do Econômico, que apresentavam lucros antes da intervenção?
Barbosa - Lucro é uma demonstração direta da vontade dos acionistas e controladores. Há lucros econômicos e financeiros. Os econômicos dependem muito do que você entende como liquidez de ativos. A ótica deles era de que os ativos eram bons e havia lucro. Como não concordo com isto, quando assumi cortei os lucros.
Agência Folha - O senhor detectou alguma irregularidade ou desvio de verbas do Econômico para o exterior?
Barbosa - Isto não compete a mim. O que vi de indícios encaminhei à Comissão de Inquérito. Há aplicações do Econômico no exterior, mas quem vai dizer o que isto significa é a Justiça.
Agência Folha - Qual o valor destas aplicações?
Barbosa - É bastante alto, mas não falo em números. O dinheiro está em Nova York e nas ilhas Cayman. Mas os bancos supridores de recursos alcançam mais países. Há bancos suíços, japoneses, alemães, do Panamá e até na Nicarágua.

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