São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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FHC traça estratégia para enfrentar Sarney

LUCIO VAZ; GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso vai esperar apenas a conclusão das reformas constitucionais para, no próximo semestre, entrar de cabeça na política partidária.
O alvo é um só: o presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP). Política, reconhecem adversários e aliados, é um terreno onde o ex-presidente se move sem dificuldades.
FHC e a cúpula do PSDB já tinham chegado à conclusão de que Sarney foi um dos principais adversários do governo no primeiro ano de mandato.
Já têm definida agora a silhueta da imagem que deve fazer sombra ao governo no ano que começa. Mais uma vez, o perfil do adversário coincide com o de Sarney.
O governo já está de olho no comportamento administrativo do presidente do Congresso, que estaria impondo gastos não previstos no Orçamento, o que irrita a equipe econômica.
Prestígio público
A estratégia de FHC é consolidar uma aliança que garanta a eleição de um tucano em 98. De preferência, ele mesmo, caso seja aprovada a emenda que permite a reeleição de governantes.
Neste primeiro semestre, no entanto, quando as principais reformas devem tramitar no Senado, a idéia é tratar Sarney com reverência, sobretudo em público.
Foi esse o motivo que levou FHC a pedir que o presidente do Congresso representasse o Brasil no funeral do ex-presidente francês François Mitterrand, ocorrido anteontem.
O presidente da República e os principais líderes do PSDB avaliam que Sarney traçou uma estratégia para viabilizar sua candidatura a presidente em 98. Mais do que isso: alguns tucanos avaliam que Sarney já se considera previamente eleito
O senador apóia o governo, mas cria dificuldades e mantém independência em matérias polêmicas.
Para a cúpula tucana, Sarney avaliaria, de forma correta, que o sucesso absoluto do governo FHC resultaria na eleição de um candidato do PSDB em 98 ou que contasse com o apoio do presidente.
O fracasso do governo também não interessaria a Sarney, segundo essa avaliação, porque o PMDB sofreria as consequências na condição de aliado. Sarney procura um meio termo que viabilize e preserve o seu nome para qualquer uma das hipóteses.
Os tucanos criticam o fato de Sarney ter incentivado "concessões de privilégios" aos servidores do Senado.
Eles teriam recebido aumentos que estouram o próprio orçamento e criam dificuldades para o Executivo.
O principal argumento é o aumento médio de 30% concedido em dezembro aos servidores da Casa.
O gasto mensal com os 4.573 servidores (2.327 ativos) já chega a R$ 21,4 milhões, ou R$ 17,5 milhões sem os encargos trabalhistas.
A despesa média com cada servidor do Senado fica em R$ 4.680. O salário médio é de R$ 3.800 (38 salários mínimos).
Uma resolução aprovada no dia 15 de dezembro de 95, no apagar das luzes do ano legislativo, elevou o piso salarial do Senado para R$ 1.420 (14 salários mínimos). A resolução 76/95 concedeu uma "representação mensal" para 719 servidores.
A área econômica afirma que essa resolução provocou um aumento médio de 30% para os servidores do Senado.
Não haveria previsão orçamentária para cobrir essa nova despesa. A repercussão na folha de pagamento, na verdade, chega a 3,6%.
Para que a folha de pagamento do Senado fique próxima dos R$ 30 milhões, é preciso que sejam acrescentados os 1.570 servidores do Centro Gráfico e os 430 do Prodasen (Centro de Processamento de Dados). Mas os dois órgãos também prestam serviços à Câmara dos Deputados.

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