São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Econômico e Sivam selam paz ACM-FHC

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Durante quase cinco meses, eles andaram às turras. Na última quinta-feira, fizeram as pazes, pelo menos temporariamente.
"Está tudo calmo" -foi a senha comum para a trégua selada no final da manhã da última quinta-feira pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Saldo do tiroteio sustentado por ACM contra a direção do BC (Banco Central) e o projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), desde a intervenção do Banco Econômico: o novo dono do banco, o Excel, não herdou o rombo de R$ 3,5 bilhões do Econômico, que permanece sob administração do BC, como defendia ACM desde o princípio.
O comando do BC, em compensação, sobreviveu aparentemente à crise. E a defesa do contrato do governo com a empresa norte-americana Raytheon para implantar o Sivam (um projeto de US$ 1,4 bilhão), sustentada por FHC, ganhou um alento.
O Senado caminha para avalizar o contrato ainda durante o período de convocação extraordinária do Congresso depois de ter feito uma série de declarações que punham sob suspeita o contrato.
O ego de ACM não cabe no papel de um aliado bem-comportado do governo Fernando Henrique Cardoso.
A maior estrela do PFL prefere oscilar entre a trincheira barulhenta e o conforto de um político que levou seu partido a apoiar a candidatura de FHC ao Planalto e detém a maioria dos cargos federais de seu Estado, a Bahia.
O próprio ACM gosta de lembrar que bombardeou o ex-presidente Jânio Quadros, no início de seu curto mandato de sete meses, só porque Jânio recusou a indicação para manter o reitor da Universidade da Bahia. Era a estréia em nível federal do estilo belicoso.
Depois da intervenção no Econômico, ACM chamou diretores do BC de "marginais" e, para bombardear o Sivam, muniu-se de uma carta de intenções assinada pela Raytheon com a Esca (gerenciadora do projeto, já afastada pelo presidente Fernando Henrique) dois anos antes de a empresa norte-americana ser escolhida sem licitação pública.
O senador acredita manter influência sobre o governo FHC, mas já desconfia, em conversas reservadas com amigos, que não contará com o apoio do Palácio do Planalto para uma eventual candidatura à presidência do Senado, no ano que vem.
Guerra de egos
O ego do presidente tampouco admite um aliado que pretende mandar no Planalto, embora não despreze a influência no Congresso de um "aliado" que assusta.
A reaproximação de FHC e ACM até a trégua selada num encontro extra-agenda no Palácio do Planalto seguiu um ritual -tão peculiar quanto o relacionamento mantido entre os dois.
Na véspera do réveillon, FHC escolheu uma praia na base militar de Aratu, na Bahia, para descansar.
ACM não foi recepcioná-lo. O presidente ficou três dias em solo baiano. Só no dia de embarcar de volta a Brasília telefonou para o senador, na ilha de Itaparica.
ACM imaginava que a solução para o Econômico estava praticamente fechada. Contabilizava afagos de FHC em seu filho, o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA).
Ainda assim, não foi ao embarque de FHC. Disse que o faria se pudesse. Estava a 15 minutos de distância do aeroporto.
Entre o anúncio da venda do Econômico ao Excel e o novo telefonema de FHC com o convite para ACM ir ao Planalto, passaram-se mais seis dias.
À saída do Palácio, ACM comandou uma operação para apressar a decisão do Senado sobre o destino do Sivam.
No primeiro relato do encontro, limitou-se a dizer: "Fui agradecer...pelo Econômico".

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