São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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NA PONTA DO LÁPIS

MARCELO LEITE

Uma coisa que o jornal já deveria ter abandonado há muito são os Indifolhas. Trata-se daqueles quadrinhos tidos por estatísticos que a Folha publica na capa de seus cadernos desde 1987, copiados dos famosos "snapshots" do diário "USA Today". Mal copiados, diga-se, como demonstra à larga este reproduzido à direita, publicado pelo caderno Veículos em 5 de dezembro.
O redator do retângulo infeliz deve ter tomado bem mais que três copos, taças, doses ou o que for. Desrespeitou o bom senso e as regras básicas de edição do que no jargão tecnojornalístico se alcunhou de "infográficos". A começar pela leitura instantânea: o leitor que tentar decifrar sua concepção vai ficar rodando naqueles 40 centímetros quadrados e terminará tão tonto quanto ele.
Leia como o "Novo Manual da Redação" normatiza esse "módulo de informação visual", à sua pág. 149: "Apresenta em forma de arte cifras comparativas que podem ou não ter relação com o tema da reportagem principal. (...) O título deve anunciar a comparação, e a gravata, o padrão de medida em que aparecem as cifras do Indifolha".
Comparação no título o exemplar etílico até tem, mas não a gravata (linha abaixo do título) que pede o "Manual". Por uma razão óbvia: não há padrão de medida comum entre copos, taças e doses. Essa pode ser uma regrinha prática para motoristas, mas não faz sentido, matematicamente. O certo seria dizer quantos mililitros pode-se ingerir de cada bebida e, para efeito de didatismo, traduzir isso em copos etc. -e não comparar 3 com 3 e 3.
Para a maioria das pessoas com que convivo, os Indifolhas são motivo de piada. Isso decorre de que sua produção tornou-se burocrática, como o preenchimento de um formulário. Um de seus apelidos na redação é "inditrolha".
O Indifolha está maduro há tempos. O vendaval da próxima reforma gráfica seria uma boa oportunidade para deixá-lo cair.

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