São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Pai de mulher morta por PM confia na polícia

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

"Se eu tiver que chamar a polícia, vou chamar. Não tenho medo dela e ninguém deve temê-la mais do que aos ladrões." A opinião é do comerciante Pedro Caringi, 65.
Em março de 1990, um vizinho do comerciante viu um casal de ladrões entrar na casa dos Caringi na Pompéia (zona oeste). Chamou a polícia, que cercou a casa.
Durante a negociação, um atirador de elite da PM tentou acertar o ladrão que mantinha uma arma apontada na cabeça da professora Adriana Caringi, filha de Pedro, em uma janela. A bala matou Gilberto Palhares, o assaltante, mas, transpassando seu corpo, também matou Adriana, a refém.
"A realidade é que você precisa da polícia", disse. Ele afirmou que não "é louco" para acreditar que "os 70 mil PMs do Estado" são "iguais aos imbecis" que cercaram sua casa.
O autor do disparo, cabo Marco Antônio Furlan, não ficou preso nenhum dia pelo crime. Além do assaltante Palhares, os PMs também mataram a ladra Regiane Aparecida de Souza.
O comerciante Messias Francisco de Souza, 63, afirmou que após ter sido torturado por cerca de 20 PMs passou a ter mais medo da polícia do que dos bandidos.
"Os bandidos não telefonam para minha casa ameaçando-me de morte. Os PMs ligam e dizem que, se eu não parar de denunciá-los, haverá movimento no IML." O IML (Instituto Médico Legal) é o órgão estadual que examina os corpos das pessoas assassinadas.
Em outubro do ano passado, um grupo de policiais invadiu a casa de Messias na zona leste. Ele e a mulher, a professora Dirce Maria Anacleto, 52, teriam sido torturados com socos, chutes, pauladas e choques elétricos.
A tortura teria sido o modo encontrado pelos policiais para forçar o comerciante confessar o assassinato de um PM. As polícias Civil e Militar abriram inquérito para apurar o caso.
Os policiais acusados prestaram depoimento e negaram a acusação. Na última quinta-feira, Messias e sua mulher relataram o caso para o ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Benedito Domingos Mariano.
(MG)

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