São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Auditor quer novas regras para balanço

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A empresa internacional de consultoria e auditoria Ernst & Young aumentou seu faturamento no país em torno de 20% para R$ 55 milhões nos 12 meses terminados em setembro passado.
Foi um resultado melhor que os 14%, em média, obtidos pela empresa em 120 países, onde faturou US$ 6,9 bilhões em igual período.
Recém-nomeado presidente local da Ernst & Young, o americano George Roth traz esses números na bagagem, em sua mudança do Rio de Janeiro para São Paulo, após quase 30 anos na filial carioca da empresa.
Mas Roth traz também para a matriz paulista uma missão delicada: melhorar a imagem da companhia, chamuscada pela intervenção no Banco Econômico.
A Ernst & Young era a auditora do banco baiano, que quebrou em agosto sob um rombo de R$ 1,9 bilhão (além de dívidas não garantidas de R$ 1,6 bilhão junto ao BC), apesar de mostrar um balanço contábil semestral saudável.
Em entrevista à Folha, Roth defende sua empresa de acusações de negligência, dizendo que o problema do Econômico mostrou que é hora de mudar as regras dos balanços. O procedimento das auditorias, segundo ele, é corretíssimo.
*
Folha - O que houve com o Econômico, que o último balanço não refletiu?
George Roth - Com o Real, os bancos precisaram mudar a forma de atuar. Sem aqueles ganhos fantásticos dos tempos de inflação alta e com um problema geral de inadimplência, os bancos foram afetados. Outros alavancaram muito mais (emprestaram mais vezes o seu patrimônio), o que ficou patente nos balanços. E os rumores de que bancos alavancados estavam com problemas de fluxo de caixa suscitaram corridas bancárias. Foi o que aconteceu com o Econômico e com o Nacional. Quando tem corrida, não tem banco que aguente.
Folha - Os balanços, então, são peças de ficção?
Roth - Não, não são. Se olharmos os balanços dos bancos em dificuldades, veremos que os números mostram passivos circulantes maiores que os ativos circulantes, demonstrando descasamento - e isso foi corretamente divulgado. Não houve maquiagem. O que há é um problema de leitura das demonstrações financeiras. Temos que mudar o modelo.
Folha - O que o sr. sugere?
Roth - Os balanços devem ser mais sucintos e as notas explicativas devem ser mais completas. Até mesmo contadores têm dificuldades em entender os balanços de instituições financeiras. Há muitas rubricas e poucas explicações. Poderíamos ter rubricas globais de empréstimos, que seriam sujeitos à abertura em notas explicativas, por setor, região, concentração etc. Assim, haveria maior análise de riscos das operações.
Folha - Os provisionamentos contra empréstimos de recebimento duvidoso não eram insuficientes no caso do Econômico? A auditoria deveria exigir aumento nessa vacina contra calotes?
Roth- O provisionamento é baseado no julgamento dos administradores, auditores e advogados. Nós usamos o nosso melhor julgamento. Mas podem acontecer fatos antes ou depois dos balanços que mudam tudo de figura. Se há uma deterioração dos ativos, há um problema gerencial, e não contábil. As provisões do Econômico constavam do balanço e eram consideradas adequadas. Foi um problema localizado, e não genérico.
Folha - Os críticos das auditorias dizem que elas não têm independência suficiente para assinar balanços, pois quem as contrata (os controladores) são os mesmos que as pagam e as demitem em qualquer momento.
Roth - Não concordo. Empresas de auditoria não cometeriam erros dessa natureza. É absurdo pensar que é mais importante manter o cliente do que o nome da empresa.
Folha - A consultoria sabe quando o banco está recorrendo ao auxílio financeiro redesconto, no Banco Central?
Roth - Sim, aparece nas demonstrações financeiras. Cliente e Banco Central participam do processo.
Folha - Então, o BC não foi lento ao intervir no Econômico e no Nacional somente quando o dinheiro público já havia sido escoado pelos rombos deles?
Roth - Bancos vivem de credibilidade, é difícil tomar decisões que afetem sua credibilidade. A autoridade monetária deve dar apoio às instituições com dificuldades momentâneas de liquidez, a questão é até quando.
Folha - O senhor acha que a imagem da Ernst & Young foi chamuscada nesse episódio?
Roth - Não, não estamos com a imagem arranhada. Tanto é que conquistamos novos clientes depois do caso Econômico.

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