São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Gerdau afirma que Cade é atraso na abertura

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) é mais um capítulo do atraso na abertura econômica no Brasil, diz Jorge Gerdau Johannpeter, 59, presidente do grupo siderúrgico Gerdau.
Para ele, a lei antitruste é anacrônica porque está condicionada à uma visão de mercado fechado.
Gerdau afirma que o Cade é mais um exemplo, ao lado do sistema tributário, da "abertura meia sola" no país.
"Ou são adotadas soluções estruturais para dar competitividade ao país, ou o empresariado, por desespero, vai buscar soluções protecionistas, o que é errado".
Gerdau diz que as fusões e incorporações de empresas representam o caminho para a competitividade eficência na era da globalização econômica.
Para ele, o Cade interfere nesse processo com uma legislação extremamente restritiva em comparação com os países do Primeiro Mundo e da Ásia.
O grupo Gerdau aguarda a decisão do ministro Nélson Jobim (Justiça) sobre a liminar que suspendeu decisão do Cade de proibir a compra da siderúrgica Pains pelo grupo em 1994.
Jorge Gerdau, que é coordenador da Ação Empresarial Pelas Reformas Constitucionais, falou com a Folha na última quarta-feira.
*
Folha - Qual é a expectativa da Ação Empresarial quanto à aprovação das reformas constitucionais na atual convocação extraordinária do Congresso?
Jorge Gerdau Johannpeter - A grande preocupação do empresariado hoje é tornar a atividade empresarial competitiva.
O empresariado tem trabalhado internamente em termos de qualidade e redução de custos. É por isso que o empresariado tem tido uma posição muito firme de que é preciso que o país como um todo também se torne competitivo dentro desse conceito da redução do chamado "custo Brasil".
Folha - Como o sr. vê o desafio da retomada do emprego no país em 1996?
Gerdau - É preciso mudar o cenário econômico para a retomada dos investimentos e geração de empregos. E isso passa pelas reformas constitucionais. Todas são importantes, mas é indiscutível que, para o empresariado, a prioridade é a reforma tributária, porque ela é fator decisivo para a competitividade.
A reforma é necessária para que o país retome a capacidade de investir na área social. É preciso resgatar urgentemente a enorme dívida social do país.
Folha - Além de sua atividade como líder da Ação Empresarial, o sr. está também em evidência devido ao caso Pains/Gerdau. Como o sr. avalia as fusões e incorporações e direito econômico no país?
Gerdau - Isso é um processo evolutivo. À medida que o mercado e a competição crescem, surge a necessidade de fusões e incorporações. Isso tudo é um problema vinculado ao conceito de escala. A globalização exige maiores escalas e isso leva à onda de fusões e incorporações.
Folha - A legislação sobre direito econômico e antitruste do país são obstáculos às fusões e incorporações? O Cade é anacrônico na era da globalização?
Gerdau - O Cade é mais um que tem que passar por esse processo de ajuste. O Brasil está atrasado. Outros países, principalmente os tigres asiáticos, começaram esse processo de competitividade e globalização há dez anos.
Folha - Qual seria uma legislação adequada para o Cade para que o país supere esse atraso?
Gerdau - No Brasil, o Cade é apenas um dos capítulos do atraso, um exemplo de uma atitude geral ainda condicionada à uma visão de mercado fechado. As regras econômicas têm que se ajustar a um processo de uma estratégia política global do país. Se o país quer realmente gerar empregos e ter produtos competitivos, ele tem que se inserir no contexto internacional. Se ele quiser se inserir no cenário internacional, ele tem que ser um país com patamares em todas essas frentes que obedeçam os critérios mundiais da competitividade.
Não existe abertura meia sola.
Folha - Qual é a posição do grupo Gerdau no caso Pains?
Gerdau - O tema ainda está sendo estudado dentro do Ministério da Justiça. Estamos aguardando decisões.
Estamos nesse processo por acaso, mas ele é um processo que está dentro dessa evolução da política econômica global do país.

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