São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Eleição representa fim da carreira de Soares

JAIR RATTNER
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LISBOA

As eleições de hoje marcam o fim da carreira política do presidente português Mário Soares. Aos 71 anos de idade, Soares deixa a política ativa como o personagem mais importante da democracia portuguesa -iniciada com a Revolução dos Cravos, de 25 de abril de 1974.
Depois de dez anos na Presidência, Soares continua a ser o político mais popular do país. Ele sai com mais de 70% de aprovação por parte dos portugueses, completando 52 anos de atividade política.
Com seu estilo informal e um desprezo pelo afastamento que é imposto à sua função, Soares acabou virando um exemplo para os políticos portugueses. Os dois únicos candidatos à sucessão, Jorge Sampaio e Cavaco Silva, durante toda a campanha disputam o direito de ser o herdeiro político de Mário Soares.
A eleição de Soares para a Presidência, em 1985, foi considerada uma surpresa. Entrou na campanha com apenas 7% das intenções de voto, conseguindo uma vitória por 0,5% no segundo turno -menos de 110 mil votos de diferença sobre o candidato da direita, o atual presidente da Assembléia Geral da ONU, Diogo Freitas do Amaral.
Soares ocupou todos os cargos políticos de importância no país. Mesmo sem se dar bem com a economia, foi primeiro-ministro, depois de ter ocupado o lugar de chanceler logo depois da Revolução dos Cravos.
A sua atuação naquela época é considerada a responsável por evitar que o Partido Comunista tomasse o poder. Foi um dos organizadores do comício da Fonte Luminosa, que reagrupou as forças que se opunham à coletivização da sociedade portuguesa.
Dessa época, a direita portuguesa não perdoa a responsabilidade que teve no processo de descolonização dos países africanos de língua portuguesa -acusam-no de ter entregue o império português a ditaduras de esquerda, como ocorreu, por exemplo, em Angola e Moçambique.
A atividade política de Soares começou na década de 40, na juventude comunista, sem ter chegado a entrar no PC. Como advogado, destacou-se como defensor de presos políticos. Foi preso 12 vezes pela Pide, a polícia política da ditadura portuguesa, chegando a passar três anos na prisão e no exílio. Em 1973, foi um dos fundadores do Partido Socialista, numa reunião realizada na Alemanha.
Ao abandonar a política, Soares deixa um sucessor. Seu filho, João Soares, é o atual prefeito de Lisboa, o terceiro cargo político mais importante do país -depois do presidente e do primeiro-ministro.

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